terça-feira, 12 de setembro de 2017

A CIDADE ACABOU

A CIDADE ACABOU
                                          Vera Popoff

Havia uma cidade tão pequena, mas
               tão grande!
Nela, cabiam os sonhos , tantas emoções e
um bom tanto de docinhas ilusões.
As ruas eram serenas
As almas eram amenas
O sol fulgurava soberano
A lua , rainha das noites
As estrelas eram luzes encantadas
que piscavam e invadiam as frestas
              das janelas.
Tanto riso e bem pouquinho juízo.
Auroras esperançadas
Carinhos transbordavam
Camaradagem, formosura
A vida era só candura!

Certa noite, a estranheza!
Sem luar, sem o vagalume pisca-pisca
Sem modinhas e serenatas
nuvem pesada baixando...
Tempestade ao amanhecer!

Vendaval nos corações
Foi-se embora a singeleza
Restou pó de aspereza
A alquimia desandou!
A carruagem tombou
virou a abóbora esparramada
A noite escura e tão calada! 
O encanto se quebrou...

Um vazio...
Um vazio...
O que foi doce acabou.

CHEGA!

CHEGA!
                  Vera Popoff

Agora , chega!
Nasci, chorei,cresci.
Amei quem não amou o meu amor.
Escolhi caminhos tão penosos!
Iludi-me e desiludi-me
Apaixonei e me desesperei
Participei de todas as lutas
que passaram por mim
Plantei mil árvores e escrevi livros, mal escritos,
                         mas estão lá
                      preto no branco!
Pari , amamentei e chorei todas as dores,
              e sorri algumas alegrias,
mesmo nunca tendo sido, verdadeiramente,
inteiramente e inconsequentemente...   alegre.
E arrisquei-me mais do que podia
Andei muito além do desejado
Dancei passos mal marcados
Abdiquei dos sonhos mais lindamente sonhados
 Fui tola, ingênua, pequena e tão grande,
quando exigiram-me crescimento.
Mas agora, cansei.
Sento-me sob árvores que plantei
e sinto o cheiro bom do jasmim
Acaricio as pétalas das rosas escolhidas, no jardim
Aprecio a construção do ninho
 e emociono-me , apenas e tão somente
              com o passarinho.
Sair do meu quintal para ver o quê??
Convidada, não vou às festas
e não vivo para aparar mais arestas.
Chega de exposição e tanta decepção
Chega de querer convencer ,
de esmurrar o mal querer
de lembrar o que desejo esquecer.
O mundo, fora daqui ,
está sujo e cruel
As palavras são fel
E eu gosto mesmo é de lamber a própria mão,
lambuzada de mel.
Dane-se! Cansei!



          

Amanheceu assim

AMANHECEU ASSSIM!
                                               Vera Popoff

Amanheceu assim!
Amanhece assim ...só
que às vezes não enxergo.
Ou enxergo e nem ligo
Ou estou triste e ignoro
Ou atrapalho-me com o mundo tão estranho
Ou acho de pouca importância , um amanhecer.
Ou perco-me em meio a tanta bobagem
Ou enrolo-me em  pensamentos confusos
Ou penso ser mais do que realmente sou
Ou deixo passar desapercebido
tão extraordinário amanhecer!
Caminho dentro da manhã bonita
Faço parte do cenário...ali,
com os passos contados e bem marcados,
como numa marcha cívica.
Passa um ou outro, por mim.
Sorrio aquele sorriso mecânico,
abano a cabeça num cumprimento e
 sigo como máquina bem ajustada.
O amanhecer único vira tão secundário!
Quando me apercebo da crueza dos meus gestos
É tarde!
São passadas horas e a vida acordou muito atrasada
Sem tempo...para perceber aquele amanhecer.




AMANHECEU ASSIM

 
 
AMANHECEU  ASSIM!
                                                 Vera Popoff