ENVELHECIMENTO
VERA POPOFF
Espirro, soluço, rio, tusso e...
escapa xixi. Vou tomar outro banho, meio banho, higiene a cada hora, metade da hora, um quarto da hora. Está tudo bem. Faz parte do envelhecimento.
Meus pés doem, ficaram tortos, passei a calçar numeração quarenta. Com uma metro e cinquenta e oito de altura e calçando quarenta. Vou levando. afinal...envelheci.
Pés tortos, xixi na calça, todo tipo de dor, dentes quebrados, mastigação péssima, anticoagulante em dose cavalar impedem-me ter certos cuidados que sempre foram a minha rotina.
Crises de tristeza profunda, ansiedade com rajadas de 100km/hora , barulho insuportável dos vizinhos.
Rejeição forte ao lugar onde vivo, restrição de movimentos , fim da liberdade de ir e vir sem depender de ninguém . Já não sou quem fui, não rio, não choro, mas exaspero-me. Tudo junto misturado.
Mas a dor que mais dói é ter perdido a alegria. O traço marcante desta longa vida foi sempre, a alegria. Perdi...perdi...perdi...
Que fase cruel. A paz e o alento, nas madrugadas e só. Já não faço questão de dormir . Penso em trocar , brevemente, o dia pela noite. Deitar e dormir após o almoço e levantar ás 22 horas .Passar a madrugada, que já é meu consolo, meu tempo, meu espaço.
Envelhecimento do corpo é normal. Passamos por isso. Incomoda , mas é suportável.
Mas o envelhecimento da alma dói tanto, tanto que já somos alguém que nunca fomos.
O vazio. Só o vazio...