TUDO VAI MUITO BEM
Vera Popoff
Está tudo bem! Muito bem!
o desempregado sem vintém
sumiu do mapa, graças ao óleo ungido.
E você, bolivariano intrometido,
queixa-se? Do quê?
Do andarilho buscando o resto, buscando o pão
amanhecido, o filho perdido?
Em nome de Jesus,
As armas estão liberadas!
Que festa nas periferias,
nos guetos, nas terras demarcadas!
Ah... sem embate, sem debate,
Já existem os condenados
aos lotes!
Não será usada mais
a bala de borracha, o gás de pimenta
Muito branda tal encomenda!
Facada sem sangue é coisa do passado
Decisão festejada pelo alienado!
O estampido não dói no ouvido
do homem de bem
da dama impoluta
do jovem de berço
da senhora de fé , rezando
o seu terço.
Ora , ora, o atingido, caído
será a gente miúda , sem brilho e perfume
manchada com as nódoas da dor.
O reprodutor da barbárie
sorri de contentamento
Bate a continência para o cabo,
o soldado , o capitão , o sargento.
Não importa a patente,
desde que seja a boa gente.
Nos bairros elegantes,
a grande manifestação nacional
-Por Deus, diz o senhor bem vestido
-quero o meu bairro de volta!
Não há na dita faxina, nenhum mal!
Corpos em farrapos ferem a massa cheirosa,
Deterioram as alamedas
onde transitam as pessoas bondosas
Meninos e meninas
desconhecem a nova ordem:
-É o azul ou o rosa
sem discussão e sem prosa!
Encurralados na miséria sem cor,
sem lamento, sem força para externar
o abandono e a dor.
Está tudo bem! Muito bem!
Na Terra plana, a bíblia vai além
A palavra final condena a diferença,
não permite tal ofensa, afasta o mal.
Lança os indesejados à escuridão
E haja contribuição!
A vassoura ungida e benzida
Varre a pobreza e blinda a nobreza
O livro sagrado lido e relido
no galho da goiabeira
define quem é a feia e quem é a linda.
Não contentam-se com pouca asneira.
Está tudo bem ! Muito bem!
Produção elevada das barbáries
A miséria já encurralada no lugar devido
Os deserdados da civilização
já não gemem...pedem perdão!
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