quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

QUERO PARAR

QUERO PARAR
                               Vera Popoff

A vida é movimento
mas vivo sem envolvimento
e quero parar.
Toda  manhã , a caminhada .
Pareço tão enjoada,
só desejo espreguiçar.

A cama parece fria
O pensamento é alheio
A vontade não é mais o meu esteio
Quero alguém para coar o café
Sinto no coração a falta da fé.

Peço desculpas ao sabiá
que aguarda-me para
 exibir o seu cantar.
O gato da rua que mia
     ao me ver passar
     hoje , não vai miar
     porque vou parar.

Madrugar e andar
Madrugar sem sonhar
Madrugar e os passos, disciplinar
Ah...este mesmo sol que nasce
         ou não nasce
       quer me ludibriar.

O cumprimento  do João
           foi embora
cumprimentar outras almas
       n'algum lugar.
A Gislaine , sem graça, vem no meu ombro
            lamentar e chorar
Vou parar, Gislaine, enxuga a tua própria
 lágrima, quando quiser chorar.
         Eu decidi  parar.
Vou dormir até meio dia.
Sem arroz , sem feijão, sem a massa do pão
Querem comer o almoço
acendam o fogão e vão cozinhar
             porque
                 eu
              vou parar.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

HOJE NÃO TEM POESIA

HOJE  NÃO TEM POESIA
                                                      VERA POPOFF

Hoje não tem poesia
Minh'alma está tão fria!
De indignação , arrepia-se
Por mais que eu lhe faça apelo
ela curva-se ao peso do gelo.

Hoje não tem poesia
Estou cabisbaixa e triste
Até diria , tristíssima, desolada
O rio que navega em mim
perdeu sua fluidez\ e
             reflui
Como escrever poesia?
Assisto ao  funeral da Nação
enlameada da baixeza e da vilania .

Tentei escrever poesia
Não encontrei a inspiração , a rima
À alma falante e cantante
faltou o calor, a paixão , o conforto ,
              a esperança
A emoção que eu sentia
Não resistiu ao final do dia
Portanto, sou cantador sem poesia.

Hirta de indignação
Sinto constrangimento
Nem forças tenho para um lamento!
As ruas salpicadas de suor e de sangue
Impedem-me de sonhar
Seria até uma heresia
Voar com palavras  ao vento
       e recitar a poesia.
 
Hoje não tem poesia.
Tento amenizar  tão  cruel momento
com um invento, uma alquimia
que inspire uma rima , um verso,
uma ternura  para a poesia.
 
Mas  molemente , desisto e
covardemente, não insisto.
A minha dor , a  sua dor, a nossa dor
Não podem ser esquecidas !
Hão de juntar-se , sem demora!
Bom seria se fosse, agora!
 
A pele descorada , a alma congelada,
sem encanto, mal dormida
precisa  gemer ,  gritar , açoitar
 à  exaustão, toda a resignação,
trazendo o sangue, de volta, ao coração.
 
O remédio é lutar contra o fato
Gemer as dores d'um parto
e parir novamente , o sonho
Soltar o primeiro choro e
desfraldar à luz, renovada vida.
Pisar no indigno e bisonho
Preencher o vazio do peito
com brios e com galhardia
Por certo , reencontrarei, a poesia.

Quem sabe, depois da curva,
 a alma congelada  e  turva ,
reacenderá na encruzilhada
o calor da fogueira acesa.
Derreterá o gelo e fará rolar
 uma lágrima , uma água, uma chuva
          da bem aventurança
Estamos pobres de amor e bonança


Hoje não tem poesia 
não encontro a boa rima
para o almejado canto
Guardei no armário , a alegria
Passo horas inerte e  amuada
O grande mal é a nostalgia.
 
Hoje não tem poesia.
O papel ficou em branco
Escrever , ah...eu queria
A doença é uma grave  melancolia
Quanto mais eu insistia
mais a força esmorecia
e a ruína, sobre a minha Terra, 
                caía!
 
Hoje não tem poesia.
mas" amanhã é outro dia."
 
 
 
 
 
 
                   


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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

NOVE  DEDOS E DEZ  DEDOS
                                                 Vera Popoff

As mãos com nove dedos são capazes
de arquitetar um mundo!
Desenham  a igualdade,
entregam ao povo, a dignidade,
colorem e incitam a fraternidade.

Trazem  sonhos,  aos  quem não sonhavam
Protegem  as cabeças,  do cruel relento
amenizam o ardente estio
afastam  das sofridas vidas , tanto desvario!
Agigantam-se e abatem a  miséria dura,
trazem a luz,  às noites tão escuras.

O algoz , cujas mãos pequenas , 
exibem seus anéis nos dez dedinhos,
inquieta-se com o brilho alheio
Faz da vingança , o seu grande anseio.
Tripudia e ao grande homem,
vergonhosamente ele chama "o nine"
Se ri  , com riso abjeto,
da decência , ele perde o "time"
e afunda-se na insanidade.
Sua justiça é o berço da mediocridade.

As mãos com seus nove dedos
abraçam  a Nação inteira!
São  capazes de matar a fome , a sede e o frio
Afagam as lágrimas em fio
Transpõem as águas de  gigante rio!

Fazem sorrir os  seus semelhantes
Têm sonhos tão  bonitos e delirantes!

O algoz não o perdoa!
Um homem com nove dedos
Corajoso e habilidoso
Vai direto para a masmorra
-que morra!

Não morrerá, verdugo!
A  tua sentença é reles refugo!
 
As mãos, com seus nove dedos

Tatuaram n'alma,  a sua liberdade.
Percorre o mundo inteiro, a sua integridade!



As mãos, com seus dez dedinhos
Aprisionam -se , seguem amarradas
às injustiças , às mentiras , às sentenças
            sob delação.
Estão condenadas à escravidão
        do  infame perdão.
Serão o símbolo da baixeza e da traição.

As mãos com seus nove dedos
viram  as asas de uma multidão
Sobrevoam a leveza da  consciência,
da  lucidez , da  sabedoria e da paciência.
Nelas , a esperança, inda carrega...
               São cotovias
 aproximando o céu azul,
 da nossa tão ferida  Terra.