VERA POPOFF
Hoje não tem poesia
Minh'alma está tão fria!
De indignação , arrepia-se
Por mais que eu lhe faça apelo
ela curva-se ao peso do gelo.
Hoje não tem poesia
Estou cabisbaixa e triste
Até diria , tristíssima, desolada
O rio que navega em mim
perdeu sua fluidez\ e
reflui
Como escrever poesia?
Assisto ao funeral da Nação
enlameada da baixeza e da vilania .
Tentei escrever poesia
Não encontrei a inspiração , a rima
À alma falante e cantante
faltou o calor, a paixão , o conforto ,
a esperança
A emoção que eu sentia
Não resistiu ao final do dia
Portanto, sou cantador sem poesia.
Hirta de indignação
Sinto constrangimento
Nem forças tenho para um lamento!
As ruas salpicadas de suor e de sangue
Impedem-me de sonhar
Seria até uma heresia
Voar com palavras ao vento
e recitar a poesia.
Hoje não tem poesia.
Tento amenizar tão cruel momento
com um invento, uma alquimia
que inspire uma rima , um verso,
uma ternura para a poesia.
Mas molemente , desisto e
covardemente, não insisto.
A minha dor , a sua dor, a nossa dor
Não podem ser esquecidas !
Hão de juntar-se , sem demora!
Bom seria se fosse, agora!
A pele descorada , a alma congelada,
sem encanto, mal dormida
precisa gemer , gritar , açoitar
à exaustão, toda a resignação,
trazendo o sangue, de volta, ao coração.
O remédio é lutar contra o fato
Gemer as dores d'um parto
e parir novamente , o sonho
Soltar o primeiro choro e
desfraldar à luz, renovada vida.
Pisar no indigno e bisonho
Preencher o vazio do peito
com brios e com galhardia
Por certo , reencontrarei, a poesia.
Quem sabe, depois da curva,
a alma congelada e turva ,
reacenderá na encruzilhada
o calor da fogueira acesa.
Derreterá o gelo e fará rolar
uma lágrima , uma água, uma chuva
da bem aventurança
Estamos pobres de amor e bonança
Hoje não tem poesia
não encontro a boa rima
para o almejado canto
Guardei no armário , a alegria
Passo horas inerte e amuada
O grande mal é a nostalgia.
Hoje não tem poesia.
O papel ficou em branco
Escrever , ah...eu queria
A doença é uma grave melancolia
Quanto mais eu insistia
mais a força esmorecia
e a ruína, sobre a minha Terra,
caía!
Hoje não tem poesia.
mas" amanhã é outro dia."
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