quinta-feira, 2 de maio de 2019

NASCEU!


NASCEU!
                    Vera Popoff


O sujeito cansado, parou!
Olhou para o céu, reconheceu as estrelas
Era lua cheia e o sujeito fixou o seu olhar
             por pouco tempo
             desinteressou-se.

Esperou o amanhecer...
abriu a porta e saiu
Foi inspirar-se no nascer do sol e ouvir
          os sons da madrugada
          o galo despertar
          o pássaro cantar
Durou pouco o entusiasmo,
          desanimou.

Tomou um café amargo
pão  sem  a manteiga e
            leu.
Mas a notícia não lhe interessou
A charge não lhe agradou
O editorial não lhe convenceu
            Saiu
Percorreu as ruas  do bairro
Cumprimentou o vizinho
Olhou o sabiá alimentando o filhote
              no ninho
Não sentiu ternura
Tampouco , amargura!
   Total indiferença
O que mais lhe tocaria o coração?
Em qual buraco escondiam-se
          as suas  sensações?

Ouviu casos na praça
Jogou truco, acendeu um cigarro
Já não importava-se com o mal da nicotina
                 dane-se!
Pisou o asfalto e pisou o barro
         nada o satisfez
         Vendeu o carro
Calçou um sapato largo
Uma roupa amarrotada
Um chapéu, herança do avô arruinado
           Partiu
         Nunca regressou
O cansaço e a falta de cuidado
 com a vida, o desmoronou!

Nunca  mais enviou notícia
Fez-se de morto, escondeu-se
 num lugar ermo, fora de qualquer vista
Sem dar satisfação,
Sem nunca mais pedir perdão,
nem rezar uma oração
ou fazer qualquer concessão

Comeu uma fruta do pé
acendeu fogo de chão
banhou-se n'água do rio,
secou-se ao vento
sentou-se sob o florido barbatimão


Voltou a olhar o céu
que jamais foi tão azul!
Memorizou uma canção,
tirou o chapéu, num ato de devoção
             e
        Nasceu!




       





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