Pela manhã, arruma e limpa,
lava, passa, recolhe e escolhe.
Ao meio-dia...as panelas e travessas,
os pratos, colheres e garfos lhe consomem.
Ela esquece o próprio nome.
E os sonhos??
Os sonhos estão nas caçarolas!
Enquanto, encalorada, faz do espanador
a sua ventarola!
Adiante, vai o dia...ela silencia!
Perde o tom , a sua melodia.
O esfregão à mão, limpa as nódoas
do seu coração!
Os pensamentos e devaneios ...
caídos ao chão!
Ela ainda borda, costura , remenda
e veste a monotonia de renda!
E os sonhos??
Os sonhos estão pendurados no varal!
E ela, aborrecida, enxuga a lágrima
no velho avental!
Mas se lhe falta o riso,
também lhe falta o juízo!
Pois inda sente um ardor louco
que lhe faz arder no inverno
e tremer o corpo em pleno verão!
O que fazer com tal sensação??
Nas tardes , o sol se despede!
Da janela olhando a lua,
com a alma despida, nua,
ela escreve a sua poesia.
Dizem as más línguas :
-Mulher poetar na janela é uma heresia !
Nas folhas de papel em branco
desenha as letras dos sonhos
retirados das caçarolas e recolhidos
do varal, numa tarefa tão banal!
![]() |
OS SONHOS RECOLHIDOS DO VARAL , NUMA TAREFA TÃO BANAL! |
Nenhum comentário:
Postar um comentário