PIEGUICE
Vera Popoff
Já nasci piegas
Falo do amor,
dos encontros, reencontros
Falo das mesmices ,
escrevo o banal,
a rotina humilde,
a rotina tola,
falo do fugaz
e não sinto fulgência
neste meu falar.
Falo das sandices
rimo babaquices
que hão de doer ouvidos
e ferir vernáculos,
que hão de soar cretino
e acabam na lata do lixo!
O que esperar, enfim,
Da mulher setenta
que perdeu o prumo
que procura ares
que sufoca as dores
que sente só saudade
que passou da idade
que sorri com a boca,
mas chora com a alma
que se desespera
para encontrar um eixo
onde ainda possa
arriscar um giro???
quinta-feira, 30 de junho de 2016
MORRER DE TRISTEZA
MORRER DE TRISTEZA
Vera Popoff
Eu vou morrer do mal da tristeza!
Com os olhos fitando o espaço vazio
A boca murchada e calada
A falta da fome comida
A sede bebida com os lábios cerrados.
Todo o riso sumido...
O tédio esperando o tempo
O tempo preenchido de tédio.
O olhar sem enxergar, sem chorar
A pele sem mais sentir
E não ter em quem esfregar e apertar.
Eu vou morrer do mal da tristeza!
Definhada e acabada
Aniquilada e feito terra arrasada.
-Quer morte mais bem morrida?
Os braços que , há tempos, não abraçam!
O pé que já não sente o chão
A mão que não acarinha ou afaga
O amor que não beija o corpo
O corpo que não se entrega
ao desejo, à paixão!
O suor não exala odor
A cor do mundo tão desbotada!
O Universo torcendo contra
As traições tocando no meu ouvido
Mil mágoas me torturando!
Ah...que morte!
Que morte mais bem morrida!!
Vera Popoff
Eu vou morrer do mal da tristeza!
Com os olhos fitando o espaço vazio
A boca murchada e calada
A falta da fome comida
A sede bebida com os lábios cerrados.
Todo o riso sumido...
O tédio esperando o tempo
O tempo preenchido de tédio.
O olhar sem enxergar, sem chorar
A pele sem mais sentir
E não ter em quem esfregar e apertar.
Eu vou morrer do mal da tristeza!
Definhada e acabada
Aniquilada e feito terra arrasada.
-Quer morte mais bem morrida?
Os braços que , há tempos, não abraçam!
O pé que já não sente o chão
A mão que não acarinha ou afaga
O amor que não beija o corpo
O corpo que não se entrega
ao desejo, à paixão!
O suor não exala odor
A cor do mundo tão desbotada!
O Universo torcendo contra
As traições tocando no meu ouvido
Mil mágoas me torturando!
Ah...que morte!
Que morte mais bem morrida!!
PROCURO UM LUGAR
PROCURO UM LUGAR
Vera Popoff
Não sou daqui
Não sou dali
Não venho de canto algum
Não tenho um torrão pra voltar
Depois da ilusão morrida
da beleza sumida
da pele partida
das rugas mostrando
os desdouros da vida!
Não tenho torrão pra voltar
e esperar
o acabamento chegar.
Preciso procurar e achar
Lugar com cheiro de flor,
Na janela uma fenestra
para entrar um raio de sol bem quentinho,
Um chinelo de lanzinha
Um xale bordado, com franjas
pra acomodar o meu cansaço
e agasalhar as lembranças.
Preciso d'uma porta com fresta
pra ver o dia passar
Perder o meu olhar num vazio
Ouvir o galo cantar
Lembrar de minha mãe e do meu pai
Contar histórias e fingir
que tem alguém para ouvir!
Também vou providenciar
a cadeira de balanço.
Precisa ser rangedeira
quero ouvir o seu chiado
pra poder me distrair
e nem sentir
a minha entrega e desamparo.
E quando cair a chuva
Vou me abrigar na varanda
Ouvir o ruído gostoso
dos respingos no telhado.
E até vou querer um gato
enroscado nos meus pés!
Quando a noite chegar
Vou por tramelas nas portas
Ajoelhar e rezar:
-uma Salve Rainha
-uma Ave Maria
-e o Ato de Contrição
Abotoar a camisola
de alva e fina cambraia
cobrindo o meu corpo débil.
Puxarei a coberta
agasalhando as pernas,
agora cheia de dores, gemendo
as tantas fraquezas.
Com o coração enregelado
Pedirei à noite que se vá muito depressa,
pois sinto medo do escuro.
Vai ser tarde pra rogar
Mas se for possível , me arrumem
uma cova bem larga
Será a última parte que me cabe
na derradeira morada,
Por favor, plantem ao lado
um pé de rosa amarela
Ou pode ser apenas,
um suave lírio do campo!
Coloquem uma cruz bem branquinha,
O quadro de Nossa Senhora e
não esqueçam da vela acesa
pra alumiar o meu último sono profundo!
Vera Popoff
Não sou daqui
Não sou dali
Não venho de canto algum
Não tenho um torrão pra voltar
Depois da ilusão morrida
da beleza sumida
da pele partida
das rugas mostrando
os desdouros da vida!
Não tenho torrão pra voltar
e esperar
o acabamento chegar.
Preciso procurar e achar
Lugar com cheiro de flor,
Na janela uma fenestra
para entrar um raio de sol bem quentinho,
Um chinelo de lanzinha
Um xale bordado, com franjas
pra acomodar o meu cansaço
e agasalhar as lembranças.
Preciso d'uma porta com fresta
pra ver o dia passar
Perder o meu olhar num vazio
Ouvir o galo cantar
Lembrar de minha mãe e do meu pai
Contar histórias e fingir
que tem alguém para ouvir!
Também vou providenciar
a cadeira de balanço.
Precisa ser rangedeira
quero ouvir o seu chiado
pra poder me distrair
e nem sentir
a minha entrega e desamparo.
E quando cair a chuva
Vou me abrigar na varanda
Ouvir o ruído gostoso
dos respingos no telhado.
E até vou querer um gato
enroscado nos meus pés!
Quando a noite chegar
Vou por tramelas nas portas
Ajoelhar e rezar:
-uma Salve Rainha
-uma Ave Maria
-e o Ato de Contrição
Abotoar a camisola
de alva e fina cambraia
cobrindo o meu corpo débil.
Puxarei a coberta
agasalhando as pernas,
agora cheia de dores, gemendo
as tantas fraquezas.
Com o coração enregelado
Pedirei à noite que se vá muito depressa,
pois sinto medo do escuro.
Vai ser tarde pra rogar
Mas se for possível , me arrumem
uma cova bem larga
Será a última parte que me cabe
na derradeira morada,
Por favor, plantem ao lado
um pé de rosa amarela
Ou pode ser apenas,
um suave lírio do campo!
Coloquem uma cruz bem branquinha,
O quadro de Nossa Senhora e
não esqueçam da vela acesa
pra alumiar o meu último sono profundo!
PRAGUEJANDO
PRAGUEJANDO SOBRE UMA TERRA PERDIDA
Vera Popoff
Vou quebrar a louça branca
Vou rasgar e fazer trapos
da colcha de retalhos
Golpear a renda clara da janela
Vou arrancar todas as flores
E apodrecer todos os frutos
Desmoronar as paredes que abrigaram-me
Arrebentar todas as cercas.
Vou parar a correnteza do Rio Bonito
e fazer secar a cachoeira.
Tingirei as margaridas com o meu sangue
e trazer os lírios brancos para o asfalto.
Emudecer os passarinhos
e macular todas as pombas.
Esfriar o sol luzente
Enlutar a lua cheia
Derrubar a estrela D'alva
e apagar todas as outras
lá do céu!
Vou fechar as rosas da minha roseira
E tampar em vidro fosco
o perfume dos jasmins.
Daquelas noites de aspirações e sonhos
Vou apagar a luz dos vagalumes
e praguejar ajoelhada
sobre a terra que de mim
foi arrancada!
Vera Popoff
Vou quebrar a louça branca
Vou rasgar e fazer trapos
da colcha de retalhos
Golpear a renda clara da janela
Vou arrancar todas as flores
E apodrecer todos os frutos
Desmoronar as paredes que abrigaram-me
Arrebentar todas as cercas.
Vou parar a correnteza do Rio Bonito
e fazer secar a cachoeira.
Tingirei as margaridas com o meu sangue
e trazer os lírios brancos para o asfalto.
Emudecer os passarinhos
e macular todas as pombas.
Esfriar o sol luzente
Enlutar a lua cheia
Derrubar a estrela D'alva
e apagar todas as outras
lá do céu!
Vou fechar as rosas da minha roseira
E tampar em vidro fosco
o perfume dos jasmins.
Daquelas noites de aspirações e sonhos
Vou apagar a luz dos vagalumes
e praguejar ajoelhada
sobre a terra que de mim
foi arrancada!
LOUCO AMOR II
LOUCO AMOR II
Vera Popoff
No boteco na Esquina da Saudade
Vou rolar a longa madrugada de amargura
Acendendo um cigarro
e queimando a alma no fogaréu do inferno!
O meu amor já nem são as cinzas
São as espirais d'uma fumaça perdida.
Entristece-me esse luar
que já foi nosso!
Tua imagem sim, inda é cristalina
na lembrança.
É mais pura e amada
quanto mais eu bebo e me embriago.
Releio as tuas cartas
no meu pensamento vago.
Vou levar o teu rosto, o teu abraço,
os teus carinhos e o teu beijo
para o sepulcro.
Fui amada, mas não gemi do gozo,
da dor do êxtase , nos teus braços.
Beijei bocas, poetei amores,
mas é o gosto da tua língua
que veste de calor
o meu semblante!
Vera Popoff
No boteco na Esquina da Saudade
Vou rolar a longa madrugada de amargura
Acendendo um cigarro
e queimando a alma no fogaréu do inferno!
O meu amor já nem são as cinzas
São as espirais d'uma fumaça perdida.
Entristece-me esse luar
que já foi nosso!
Tua imagem sim, inda é cristalina
na lembrança.
É mais pura e amada
quanto mais eu bebo e me embriago.
Releio as tuas cartas
no meu pensamento vago.
Vou levar o teu rosto, o teu abraço,
os teus carinhos e o teu beijo
para o sepulcro.
Fui amada, mas não gemi do gozo,
da dor do êxtase , nos teus braços.
Beijei bocas, poetei amores,
mas é o gosto da tua língua
que veste de calor
o meu semblante!
FALAR, FALAR
FALAR, FALAR
Vera Popoff
Tua boca é de falar,
mas fales pouco.
O necessário, apenas!
E de doçura...construa tuas palavras
Reflita e torna-te maior
Atira longe ...a pequenez do dia.
Que a tua boca de falar
Não fale nada de estreitar, de machucar
Que a tua boca de falar
Não cuspa palavras de magoar.
O teu silêncio pode engrandecer
O teu falar jogado fora
Pode destruir , esfacelar, matar!
Vera Popoff
Tua boca é de falar,
mas fales pouco.
O necessário, apenas!
E de doçura...construa tuas palavras
Reflita e torna-te maior
Atira longe ...a pequenez do dia.
Que a tua boca de falar
Não fale nada de estreitar, de machucar
Que a tua boca de falar
Não cuspa palavras de magoar.
O teu silêncio pode engrandecer
O teu falar jogado fora
Pode destruir , esfacelar, matar!
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FIM DE CICLO
FIM DE CICLO
Vera Popoff
Completei o ciclo padrão
O roxo das olheiras, joguei ao chão
Abandonei a disciplina exagerada
Esqueci todas as saudades exasperadas
Já não sinto exaurimento
e disse adeus aos tormentos.
Falo das minhas ideias
sem nenhuma pretensão de veracidade
Movediça...caio na graça do mundo
porque estou esfomeada.
Nem percebo se a mesa é de laca,
feita d'um toco lascado ou de lata enferrujada
Quero apenas , sentar-me e alimentar-me
de alguns sonhos que restaram.
Simular, fingir, fazer média, beber o tédio?
Não dá mais!
Vou escancarar, desamarrar
Mandar tudo para aquele lugar!
Rasgarei os retratos empoeirados
Deitar e rolar
Hábitos antigos , abandonar!
Não vou fechar a cortina de renda.
Quero a janela sem sombras.
O chão pisado não precisa ser de tábua encerada,
mosaicos pintados , tão pouco de ladrilhos decorados
Basta que aguente os meus pés...
de andar e dançar , sem pudor
Enfim, enfim...
Libertei-me de costumes ,
desinquietei-me !
Joguei um balde d'água fria
em todas as frivolidades.
Estou extenuada das cartas marcadas
das inverdades vomitadas
da hipocrisia desenfreada.
Vou seguir o meu rumo...
Começo , dobrando a esquina
à esquerda!!
Vera Popoff
Completei o ciclo padrão
O roxo das olheiras, joguei ao chão
Abandonei a disciplina exagerada
Esqueci todas as saudades exasperadas
Já não sinto exaurimento
e disse adeus aos tormentos.
Falo das minhas ideias
sem nenhuma pretensão de veracidade
Movediça...caio na graça do mundo
porque estou esfomeada.
Nem percebo se a mesa é de laca,
feita d'um toco lascado ou de lata enferrujada
Quero apenas , sentar-me e alimentar-me
de alguns sonhos que restaram.
Simular, fingir, fazer média, beber o tédio?
Não dá mais!
Vou escancarar, desamarrar
Mandar tudo para aquele lugar!
Rasgarei os retratos empoeirados
Deitar e rolar
Hábitos antigos , abandonar!
Não vou fechar a cortina de renda.
Quero a janela sem sombras.
O chão pisado não precisa ser de tábua encerada,
mosaicos pintados , tão pouco de ladrilhos decorados
Basta que aguente os meus pés...
de andar e dançar , sem pudor
Enfim, enfim...
Libertei-me de costumes ,
desinquietei-me !
Joguei um balde d'água fria
em todas as frivolidades.
Estou extenuada das cartas marcadas
das inverdades vomitadas
da hipocrisia desenfreada.
Vou seguir o meu rumo...
Começo , dobrando a esquina
à esquerda!!
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LOUCO AMOR
LOUCO AMOR
Vera Popoff
Nosso amor foi louco, foi fantasia!
-Ai, que saudade !
Sinto ainda o aperto dos teus braços
no meu corpo,
contra o teu peito desejado e amado!
Passei a mocidade a sonhar contigo
A procurar a tua boca, nos delírios
Esfregando-me ao travesseiro,
fingindo ser o teu corpo!
Homem da minha vida!
Quero aquecer-me
na fonte de calor do teu olhar
que está distante!
Não envelhecemos juntos.
Fui mulher de apenas um amor!
Já tive outros amantes
tão frívolos e efêmeros !
Só uma música encantou-me!
Aquela dançada de corpo colado
de desejo alucinado
ignorando qualquer razão
só ouvindo o coração!
Vale a pena o meu sonhar...
Tu és ainda...a inspiração
das minhas pobres rimas
És o cálice de vinho tinto
que me embriaga e desvaria!
Vou viver o pouco que me resta ...
delirando
Tua lembrança há de me matar
E mesmo descarnada
hei de amar-te...ainda!
Vera Popoff
Nosso amor foi louco, foi fantasia!
-Ai, que saudade !
Sinto ainda o aperto dos teus braços
no meu corpo,
contra o teu peito desejado e amado!
Passei a mocidade a sonhar contigo
A procurar a tua boca, nos delírios
Esfregando-me ao travesseiro,
fingindo ser o teu corpo!
Homem da minha vida!
Quero aquecer-me
na fonte de calor do teu olhar
que está distante!
Não envelhecemos juntos.
Fui mulher de apenas um amor!
Já tive outros amantes
tão frívolos e efêmeros !
Só uma música encantou-me!
Aquela dançada de corpo colado
de desejo alucinado
ignorando qualquer razão
só ouvindo o coração!
Vale a pena o meu sonhar...
Tu és ainda...a inspiração
das minhas pobres rimas
És o cálice de vinho tinto
que me embriaga e desvaria!
Vou viver o pouco que me resta ...
delirando
Tua lembrança há de me matar
E mesmo descarnada
hei de amar-te...ainda!
MINHA AVÓ
MINHA AVÓ
Vera Popoff
Lá vem a minha avó!
Caminhando lentamente...
Os olhos de azul opaco,
apalpando por onde passa
e carregando o urinol.
Lá vem a minha avó!
Pés inchados, semblante velho e caído,
bochechas moles, muxibas
e treme pra carregar o urinol!
Lá vem a minha avó...voltando!
Apalpando, tremelicando as carnes
amolecidas!
E vem...carregando o urinol que é vaso
embaixo da cama
à espera da urinação.
E senta a minha avó
na cadeira de balanço
que range doído no ouvido
compondo canção funesta!
Suas vestes da cor do escuro
Cabelos de birote branquinho.
Boca de fala caduca,
Bate, bate os dedos dilacerados,
na cadeira, que esconde os seus segredos!
-Sinto pena da minha avó
Que triste é o seu caminho!!
Só anda ...para esvaziar o urinol!
Vera Popoff
Lá vem a minha avó!
Caminhando lentamente...
Os olhos de azul opaco,
apalpando por onde passa
e carregando o urinol.
Lá vem a minha avó!
Pés inchados, semblante velho e caído,
bochechas moles, muxibas
e treme pra carregar o urinol!
Lá vem a minha avó...voltando!
Apalpando, tremelicando as carnes
amolecidas!
E vem...carregando o urinol que é vaso
embaixo da cama
à espera da urinação.
E senta a minha avó
na cadeira de balanço
que range doído no ouvido
compondo canção funesta!
Suas vestes da cor do escuro
Cabelos de birote branquinho.
Boca de fala caduca,
Bate, bate os dedos dilacerados,
na cadeira, que esconde os seus segredos!
-Sinto pena da minha avó
Que triste é o seu caminho!!
Só anda ...para esvaziar o urinol!
RETORNO
RETORNO
Vera Popoff
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para cuidar de ti
Quero ficar embriagada
com o teu perfume solto.
Voltei para abandonar-me
ao teu aconchego doce
Nos meus lábios quero encostar
o néctar das tuas flores.
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para entregar meus pensamentos
ao encanto azulado da tua lua.
Voltei para respirar aliviada
em tua floresta nua!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para embalar-me
no teu vento sussurrante.
Voltei para nas tardes palpitantes
esperar , junto de ti ,
os meus amantes!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei porque , longe de ti, sofria!
Meus olhos gotejavam agonias.
Contemplava nos sonhos
o teu pôr-do-sol dourado
e sentia teu gentil orvalho n'alma!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para abrigar-me
à sombra da tua paineira
e deixar-me beijar
por tua névoa alvissareira!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei descorada , pálida e fria
para refazer-me ao reluzente incandescer
dos teus relâmpagos!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para agonizar inteira
nas tuas noites úmidas,
à beira das tuas águas,
que são liras perfumadas!
Vera Popoff
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para cuidar de ti
Quero ficar embriagada
com o teu perfume solto.
Voltei para abandonar-me
ao teu aconchego doce
Nos meus lábios quero encostar
o néctar das tuas flores.
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para entregar meus pensamentos
ao encanto azulado da tua lua.
Voltei para respirar aliviada
em tua floresta nua!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para embalar-me
no teu vento sussurrante.
Voltei para nas tardes palpitantes
esperar , junto de ti ,
os meus amantes!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei porque , longe de ti, sofria!
Meus olhos gotejavam agonias.
Contemplava nos sonhos
o teu pôr-do-sol dourado
e sentia teu gentil orvalho n'alma!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para abrigar-me
à sombra da tua paineira
e deixar-me beijar
por tua névoa alvissareira!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei descorada , pálida e fria
para refazer-me ao reluzente incandescer
dos teus relâmpagos!
-Aceita-me de volta
Oh, minha terra aventurada!
Voltei para agonizar inteira
nas tuas noites úmidas,
à beira das tuas águas,
que são liras perfumadas!
domingo, 12 de junho de 2016
ADIANDO
ADIANDO
VERA POPOFF
Adiei para o seguinte dia
a minha alegria.
Deixei para apreciar mais tarde
o cheiro inebriante daquele jardim!
Adiei para a próxima noite
a contemplação do céu sobre mim
Do chão eu só lamentava, e chorava
e lamuriava e amargava dores inúteis
Então , debruçada na janela semiaberta,
não enxerguei o luar
Adiei... para momento mais propício,
quando o entusiasmo de viver alcançasse
um sublime início.
Fui adiando a esperança,
Adiando o momento de deliciar-me
com doces lembranças.
Muito a fazer, tanto a correr, hora de tarefar...
O campo das lamentações bem aberto
Recebendo as sementes das aflições,
das mágoas, de tudo, tudo que não foi conquistado.
O inverno chorado, doído, sentido na pele.
Adiei a chegada da minha primavera
Que tola espera! Sem sonhos, sem a germinação
da beleza, do aroma sedutor, do amor.
Adiei o passeio ao mar, a caminhada descalça
com os pés afagando a areia.
Adiei a cócega gostosa da caricia no pescoço
Adiei o beijo com gosto de amora
Não, ainda não era o momento
Esperaria a outra estação , a melhor hora!
Adiei a boa palavra, o sorriso irresistível,
Adiei o carinho, o abraço, a mão estendida
Adiei o momento de abrir o frasco de perfume ,
A estreia do vestido mais bonito,
Adiei a semeadura no quintal estéril
Adiei a colheita , adiei a data perfeita.
Assim vou adiando, adiando...
Adiando o encantamento
O deslumbramento pela vida
Adiando aquele instante de agarrar-me
à vida e simplesmente...viver!
VERA POPOFF
Adiei para o seguinte dia
a minha alegria.
Deixei para apreciar mais tarde
o cheiro inebriante daquele jardim!
Adiei para a próxima noite
a contemplação do céu sobre mim
Do chão eu só lamentava, e chorava
e lamuriava e amargava dores inúteis
Então , debruçada na janela semiaberta,
não enxerguei o luar
Adiei... para momento mais propício,
quando o entusiasmo de viver alcançasse
um sublime início.
Fui adiando a esperança,
Adiando o momento de deliciar-me
com doces lembranças.
Muito a fazer, tanto a correr, hora de tarefar...
O campo das lamentações bem aberto
Recebendo as sementes das aflições,
das mágoas, de tudo, tudo que não foi conquistado.
O inverno chorado, doído, sentido na pele.
Adiei a chegada da minha primavera
Que tola espera! Sem sonhos, sem a germinação
da beleza, do aroma sedutor, do amor.
Adiei o passeio ao mar, a caminhada descalça
com os pés afagando a areia.
Adiei a cócega gostosa da caricia no pescoço
Adiei o beijo com gosto de amora
Não, ainda não era o momento
Esperaria a outra estação , a melhor hora!
Adiei a boa palavra, o sorriso irresistível,
Adiei o carinho, o abraço, a mão estendida
Adiei o momento de abrir o frasco de perfume ,
A estreia do vestido mais bonito,
Adiei a semeadura no quintal estéril
Adiei a colheita , adiei a data perfeita.
Assim vou adiando, adiando...
Adiando o encantamento
O deslumbramento pela vida
Adiando aquele instante de agarrar-me
à vida e simplesmente...viver!
terça-feira, 7 de junho de 2016
ONDE ESTÁS , Ó JARDINEIRA?
ONDE ESTÁS , Ó JARDINEIRA?
Vera Popoff
Onde estás , ó jardineira,
afastada do teu jardim?
Não vês a rosa despetalada
A margarida enlutada
As macieiras sem frutos
Os teus jasmins sem perfume
E nas amoras...tanto azedume?
Onde estás , ó jardineira,
apartada do teu jardim?
Não vês a primavera tão desflorida
As gardênias amarelecidas
Os gerânios desmerecidos
Os cravos solitários e entristecidos?
Onde estás , ó jardineira,
separada do teu jardim?
A terra endurecida
As folhas todas caídas
Camélias emurchecidas
Os botões enfraquecidos
As sementes sem brotação?
Onde estás , ó jardineira,
desconjuntada do teu jardim?
O tempo é de seca brava
Tua alma necessita, com urgência,
de um bom fertilizante!
Tua esperança tem cochonilhas
sugando o verde ,d'antes, tão reluzente!
Onde estás , ó jardineira,
sequestrada do teu jardim?
Os beijos, d'antes pintados,
estão hoje, descorados
As onze horas perdidas
estranham o fuso horário
Que período temerário!!
Um jardim assim esquecido
Não espera, não exubera???
Onde estás, ó jardineira,
Morreste com o teu jardim??
Vera Popoff
Onde estás , ó jardineira,
afastada do teu jardim?
Não vês a rosa despetalada
A margarida enlutada
As macieiras sem frutos
Os teus jasmins sem perfume
E nas amoras...tanto azedume?
Onde estás , ó jardineira,
apartada do teu jardim?
Não vês a primavera tão desflorida
As gardênias amarelecidas
Os gerânios desmerecidos
Os cravos solitários e entristecidos?
Onde estás , ó jardineira,
separada do teu jardim?
A terra endurecida
As folhas todas caídas
Camélias emurchecidas
Os botões enfraquecidos
As sementes sem brotação?
Onde estás , ó jardineira,
desconjuntada do teu jardim?
O tempo é de seca brava
Tua alma necessita, com urgência,
de um bom fertilizante!
Tua esperança tem cochonilhas
sugando o verde ,d'antes, tão reluzente!
Onde estás , ó jardineira,
sequestrada do teu jardim?
Os beijos, d'antes pintados,
estão hoje, descorados
As onze horas perdidas
estranham o fuso horário
Que período temerário!!
Um jardim assim esquecido
Não espera, não exubera???
Onde estás, ó jardineira,
Morreste com o teu jardim??
FUI ARTESÃ
FUI ARTESÃ
Vera Popoff
Não me queixo.
Fui muitas coisas, na vida!
Entre tantas, fui artesã.
Artesã das linhas, agulhas,
Das bonecas sonhadoras
Das toalhas remendadas
Das todas colchas bordadas
Das fitas coloridas e entrelaçadas
Dos botões bem e mal pregados
Das lantejoulas luzindo
Das essências perfumadas
Dos anjos, as minhas mãos , conduzindo!
Cozi e teci. Emendei e cerzi.
Enrolei-me nos laçarotes
Construí uma casa cheia de fricotes.
Lãs tricotadas, algumas linhas cruzadas...
Alguns sonhos rasgaram-se
e não pude remendá-los!
Oh, artesã , o que fizeste?
Se nem teus sonhos , consertaste?
Tantas alegrias esfarraparam-se
Ilusões doces , mas sensíveis, não resistiram
descosturaram-se!
Esperanças viraram trapos
Os nós dos cordões da existência
apertaram-se!
Oh, artesã dos olhos de seda
Da alma vestida das cores da chita
Do coração escarlate, vez em quando, apertado
Do grande amor perdido e destroçado
Dos abraços afrouxados
Dos beijos , na boca, tatuados
Da vida mal costurada...
Vera Popoff
Não me queixo.
Fui muitas coisas, na vida!
Entre tantas, fui artesã.
Artesã das linhas, agulhas,
Das bonecas sonhadoras
Das toalhas remendadas
Das todas colchas bordadas
Das fitas coloridas e entrelaçadas
Dos botões bem e mal pregados
Das lantejoulas luzindo
Das essências perfumadas
Dos anjos, as minhas mãos , conduzindo!
Cozi e teci. Emendei e cerzi.
Enrolei-me nos laçarotes
Construí uma casa cheia de fricotes.
Lãs tricotadas, algumas linhas cruzadas...
Alguns sonhos rasgaram-se
e não pude remendá-los!
Oh, artesã , o que fizeste?
Se nem teus sonhos , consertaste?
Tantas alegrias esfarraparam-se
Ilusões doces , mas sensíveis, não resistiram
descosturaram-se!
Esperanças viraram trapos
Os nós dos cordões da existência
apertaram-se!
Oh, artesã dos olhos de seda
Da alma vestida das cores da chita
Do coração escarlate, vez em quando, apertado
Do grande amor perdido e destroçado
Dos abraços afrouxados
Dos beijos , na boca, tatuados
Da vida mal costurada...
MEU SIGNO
MEU SIGNO
Vera Popoff
Nasci sob o signo d'uma árvore!
Meu primeiro choro foi um pipiado
Tudo já era risonho
Fui parida como num sonho!
A tarde descia leve e azul
Os galhos foram os suaves braços
de minha mãe!
Neles dormi, descansei , o mundo encontrei!
Tanto abrigo !Que aconchego!
Aquele seria, para sempre, o meu apego!
Cresci como cresce um manacá da serra
Mudando , transmudando , metamorfoseando...
Exuberante majestade vestida de rosa
e branco e lilás
Nenhuma dor qualquer doía em mim
Mas toda alegria da flor, floria em mim
A vida seguiu...
Aqui estou ! Vivendo todos os tons de verde!
Alma quieta e inquieta como um colibri
No meu céu ainda luzem estrelas
Laivos do sol e do luar relumem no meu rosto
Estou na vida...no lugar que me coube...no meu posto!
Vera Popoff
Nasci sob o signo d'uma árvore!
Meu primeiro choro foi um pipiado
Tudo já era risonho
Fui parida como num sonho!
A tarde descia leve e azul
Os galhos foram os suaves braços
de minha mãe!
Neles dormi, descansei , o mundo encontrei!
Tanto abrigo !Que aconchego!
Aquele seria, para sempre, o meu apego!
Cresci como cresce um manacá da serra
Mudando , transmudando , metamorfoseando...
Exuberante majestade vestida de rosa
e branco e lilás
Nenhuma dor qualquer doía em mim
Mas toda alegria da flor, floria em mim
A vida seguiu...
Aqui estou ! Vivendo todos os tons de verde!
Alma quieta e inquieta como um colibri
No meu céu ainda luzem estrelas
Laivos do sol e do luar relumem no meu rosto
Estou na vida...no lugar que me coube...no meu posto!
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