FUI ARTESÃ
Vera Popoff
Não me queixo.
Fui muitas coisas, na vida!
Entre tantas, fui artesã.
Artesã das linhas, agulhas,
Das bonecas sonhadoras
Das toalhas remendadas
Das todas colchas bordadas
Das fitas coloridas e entrelaçadas
Dos botões bem e mal pregados
Das lantejoulas luzindo
Das essências perfumadas
Dos anjos, as minhas mãos , conduzindo!
Cozi e teci. Emendei e cerzi.
Enrolei-me nos laçarotes
Construí uma casa cheia de fricotes.
Lãs tricotadas, algumas linhas cruzadas...
Alguns sonhos rasgaram-se
e não pude remendá-los!
Oh, artesã , o que fizeste?
Se nem teus sonhos , consertaste?
Tantas alegrias esfarraparam-se
Ilusões doces , mas sensíveis, não resistiram
descosturaram-se!
Esperanças viraram trapos
Os nós dos cordões da existência
apertaram-se!
Oh, artesã dos olhos de seda
Da alma vestida das cores da chita
Do coração escarlate, vez em quando, apertado
Do grande amor perdido e destroçado
Dos abraços afrouxados
Dos beijos , na boca, tatuados
Da vida mal costurada...
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