quinta-feira, 15 de setembro de 2016

AQUI , JAZ

AQUI , JAZ...
                                Vera Popoff

Comprarei um quilo de açúcar,
um pote de mel, o melado da cana
    e um naco de rapadura.
A vida está insípida demais!
O gosto do nada, o meu peito,
          esmaga!

Não, eu não choro, nem rio
Não desejo falar,
A alegria, a boa fé,
desisti de provar.

A emoção foi vencida
na cara esmaecida.
Paixões esquecidas
Nenhum riso
Nenhum grito ou
pedido de socorro,
logo...morro!

O corpo ocupou o espaço
       do desânimo.
O coração bate por obrigação
Aqui jaz...uma vida que inda
           não morreu.

SOMOS MUITOS

SOMOS MUITOS
                           Vera Popoff

Desliguei o controle remoto
        da televisão
A notícia parcial causava-me
         aflição
Na novela da tela, pouca emoção
Um vazio enorme no meu coração
Resolvi poupar-me de mais uma
          decepção
Já não vivo numa Nação
Os direitos foram enterrados
          no chão
A lama virou uma grande proclamação
Laureada pela maior traição
E o povo fraco perdeu  a noção
Não vou partilhar de tamanha embromação
Cansada , desisti da inútil discussão
Sigo...em silêncio,  para não perder a razão
Melhor do que a conformação com a indigna
               servidão
Só aceito, no momento, a fúria de um leão
      para vencer tamanha escravidão!
Somos tantos, somos muitos, somos quase todos
Não aceitemos a inversão!
Levantemos e sigamos
o grande líder cheio de devoção.

PERDEU-SE A GRAÇA

PERDEU-SE A GRAÇA
                                              Vera Popoff

Perdeu-se a graça da vida
Perdeu-se da vida, a graça
Perdeu-se o vinho da taça
Perdeu-se na  lida , a raça
Perdeu-se a banda da praça
Perdeu-se  a ironia que embaça
Perdeu-se o passo da dança
Perdeu-se a energia da andança
Perdeu-se  na noite, a esperança
Perdeu-se no mar , a barcaça
Perdeu-se a leveza que esvoaça
Perdeu-se , na paixão , a ricaça
Perdeu-se a pureza da cachaça
Perdeu-se no passado, a lembrança
Perdeu-se na humanidade, a confiança
Perdeu-se o dinheiro da herança
Perdeu-se o voo da garça
Perdeu-se o glamour da caça
Perdeu-se a fineza da louça
Perdeu-se a decência , na Suiça
Perdeu-se a simplicidade da carroça
Perdeu-se a menina de trança
Perdeu-se o medo da ameaça
Perdeu-se o ato da peça
Perdeu-se o barulho da arruaça
Perdeu-se o homem, na cobiça
Perdeu-se o tempo , na preguiça
Perdeu-se o juiz na indecência da sentença
Perdeu-se a fé na crença
Perdeu-se o equilíbrio da balança
Perdeu-se  a  otimismo,  na  descrença
Perdeu-se do dedo, a aliança
Perdeu-se o equilíbrio da justiça
Perdeu-se a energia, na doença
Perdeu-se a ingenuidade da criança
Perdeu-se  atolado na  desgraça
Perdeu-se a cabeça!
A casa virou fumaça
A dureza é a minha couraça

ÁRVORE VAIDOSA

ÁRVORE VAIDOSA
                                             Vera Popoff

Ora, ora , vaidosa mulher!
Abrigada sob os céus,
Num pranto, por anos, contido
Espírito, ao vento, impelido,
Finge contentamento e sorri para o sol,
Faz confidências à lua,
Deseja  brilhar como a estrela,
Sonha , em numa árvore imponente,
              transformar-se!

Vaidosa, tem ilusão grandiosa
e queres ser a rósea paineira.
Pois sim! Não te basta ser
o pequeno galho da bela roseira.
Ora, ora , vaidosa mulher!
Não te contentas em ser a frágil folha
Nem mesmo uma flor forrageira
Queres ser  a árvore inteira!

Ora, ora, vaidosa mulher!
Teus pés, pela andança, feridos
Sem rumo, guiados pela inconstância
Não te enxergas? Uma paineira altaneira
Presa ao chão  pela raiz...
Olha só o que me diz,
 peregrina caminheira!

Ora , ora, vaidosa mulher!
Perdida em soberba existência
Clamando teus tantos erros,
Chorando a ansiedade,
Vivendo a pior idade,
Perdeste a oportunidade
de conquistar o teu chão!

Descrente,  não chamas ao céu
Caminha...caminha...
A vida...ao léu!
Inveja  a solidez da paineira,
Mas o que és de verdade,
no  teu espaço de tempo??
Tu és  a folha seca , ao vento!





terça-feira, 6 de setembro de 2016

CAVALGADA

CAVALGADA
                                   Vera Popoff

Cavalguei no lombo do cavalo morto,
por isso jamais cheguei, nem apeei.
No lombo da opressão , da desilusão,
sem emoção, sem combustão, cadê tesão??

Cavalgada triste
sem a partida
sem a chegada
Sem querer nada
Tão sufocada
      Na sela
do cavalo morto,
toda amarrada.






ESTOU NUA

ESTOU NUA
                         Vera popoff

Estou nua
Desabotoei a blusa
Rasguei a roupa
Estou à solta
Deixei o meu coração sair
       do peito.
Estou nua
Desvesti a elegância
Descalça estou de qualquer paciência
Cuspi a dose da tolerância
Estou com o peito ao vento
Enfrento um triste momento
Marcado por  contratempos.

Estou nua
Chega da vestimenta do fingimento
Cansei de mostrar quem nunca fui
Um basta ao  descontente
Sou diferente, jamais ausente,
Meu coração está aqui fora
Minha alma grita e aflora
Nua da omissão
Não tenho que pedir perdão!



NADA A FAZER

NADA A FAZER
                                     Vera Popoff

A dor é bruta
e a minha alma, insulta!
Fugi da luta, estou de luto.
A boca amarga
O peito aperta
A garganta seca
A lágrima rola
A indignação assola.
Ai, ai, a dor é bruta!
A devastação assusta
A palavra entala
O sonho acaba
A esperança já não exala
A desilusão é a minha fala.

Estou tão triste
A dor é bruta
Perdi o rumo
Não encontro o prumo
Fugi da luta
Choro meu luto
Só vejo a sombra
A dor insiste, persiste,
        resiste,
        é bruta!

Estou arranhada
Estou desolada
Estou acanhada
Estou desarmada
Estou alarmada
Estou contrariada
Eu vou dormir, quem sabe...
         morrer!
Já não há nada a fazer!

DISFARCE

DISFARCE
                             Vera Popoff

Para esconder a minha ignorância
             eu leio, releio,
finjo que entendi, minto que aprendi,
faço ares de quem está pensando,
        e sinto dó de mim!

Para disfarçar a minha intolerância
             eu olho, sorrio,
finjo a humildade, mas na minha idade...
é difícil esconder a verdadeira  identidade.

Para disfarçar tanta impaciência
eu conto as horas , demoradamente...
Insinuo que nem tenho pressa
Mas o peito desobedece e enlouquece.

Para disfarçar o quão valho pouca coisa
      escrevo, troco uma conversa,
simulo uma boa ideia, desfaço um
           mal  entendido e
           escondo-me,  desiludido.

Para disfarçar tanta estranheza
  compartilho algum momento
  escondo  o grande tormento
 e despisto o descontentamento.