domingo, 6 de novembro de 2016

MAIS OU MENOS

MAIS OU MENOS
                            Vera Popoff

Os domingos são todos iguais.
As segundas e terças e quartas-feiras,
As quintas e sextas-feiras
E enfim... o sábado!
Tudo sempre igual.
Nem o cardápio é variado
O arroz , o feijão , a  carne ...
ás vezes sim , ou não!
O tempo é de carestia
Com os desejos e extravagâncias
Fiz uma prudente anistia.

O lugar onde vivo é ermo
O vento é preguiçoso
O sol  sempre majestoso,
A lua , meio languente,
dá as caras , alta ,branca
Outras noites, desanimada, esconde-se!
Deus parece amuado
Seus filhos , ou são desprezados,
ou são malcriados, ou são manipulados.
Outros são oprimidos
Nas mãos pesadas  dos opressores ,
que  da injustiça e desigualdade
são ferrenhos defensores.

A parte da vida que guardava meus sonhos
    eu perdi n'algum lugar e momento
As recordações ainda aciono
 quando interessa, quando estou sem pressa.
Já não reconheço quando estou alegre
              ou triste.
E não me importo com gratidões
         ou ingratidões.

Tudo está sempre igual
Nem preciso bulir no calendário
De janeiro até dezembro
é sempre o mesmo fadário!
Os dias  nem carecem ser trocados
A indiferença nem é brisa , nem é um tornado.

Numa manhã avistei três bem-te-vis
O bem-te-vi pai , a mãe e o filhotinho
Ao perceber tanto carinho
Lembrei do quão doce também já foi
             o meu ninho.
Por um momento fiquei emocionada
Voltei em tempo à razão
Ando só... pelos meus curtos caminhos
As ausências , de tão constantes,
viraram uma rotina nada retumbante.

Decidi manter tudo sempre igual
Sem abraço , sem beijo e sem desejo
Rego as minhas plantas  ,lavo a minha roupa,
varro o chão onde piso , continuo sem  juízo,
sinto pouco sono , não como comida fria,
já não tenho fé , não faço promessa, pois
         sei que não cumprirei.
De agora em diante, pouco almejarei.
Leio Machado de Assis e guardo na memória
trechos lindos de cada história.
Ouço Bach, Beethoven, Mozart, Chopin
Ou Chopin, Mozart, Beethoven, Bach
A ordem não importa, já que são sempre os mesmos.
Escrevo e declamo uma elegia
Paro sob a árvore , a mais fiel companhia
Digo que a vida não é mais e nem menos
É , simplesmente , mais ou menos.



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