quinta-feira, 23 de abril de 2020

CORAÇÃO FECHADO

CORAÇÃO FECHADO
                                        VERA POPOFF

Coração fechado
Vera Popoff
Acordei muito cedo
Madrugada fria, triste aurora.
Vou me deitar muito cedo, antes da chegada da lua.
Não a quero desapontada com a minha tristeza tão crua, tão exposta, tão nua!
Com a solidão diante de tanta frieza.
O descaso com o sofrimento , com morte.
Um capitão cor de cinza, escarrando
o horror, o sadismo , a má sorte.
Um general debochado, quer boa notícia
sobre as covas compartilhadas.
Um juiz pateta, nem sabe o que diz,
se ri com o canto da boca tão suja,
tão desinfeliz.
Um deus pequenino clamado:
- deus acima do esgoto !
Que tempo tão cruel e maroto.
As mortes contadas em números.
Perderam seus nomes, seus filhos,
suas mães e seus pais
Ao coveiro da nação
não importam mais.
A ansiedade do dia:
-morreram duzentas?
-morreram trezentas?
-ah, foram cem?
Que importância isso tem?
Não, não tenho mais Pátria!
Meu coração fechou sua porta
Nele já não cabe
A terra de homens cruéis,
onde teimei em nascer
Não posso mais com tanto revés
Vou me deitar
Preciso sonhar

Nenhum comentário:

Postar um comentário