domingo, 27 de junho de 2021

SEM AMIGOS

 SEM AMIGOS

                  Vera Popoff

Amigos?

Eram muitos

Eram tantos!

Hoje, já não tenho boca esfaimada de palavras

para trocar com alguém,

para casos que interessam,

para risos que comemoram o nada.


Alguns se despediram e partiram

outros , os despedi e sumi,

tantos deles, já não lembro-me , semblantes

outros, não valeram levar adiante.


Eu ria ,  cercada , envolvida, sentindo-me querida

Quando me dei conta do vazio,

 da boa palavra  na crucial hora,

juntei meus retalhos e fui embora.

Acabei aqui, onde sempre , na  verdade, estive...

                só!


Não! Nenhuma dor ou saudade

A solidão curou-me de anseios tolos,

de encontros desnecessários,

de troca dos favores frívolos

da risada amarela de angústia

do saco cheio do disfarce alegre.


Percebi tarde, mas em tempo

de estudar-me por dentro,

do autoconhecimento e do gozo 

que é a solidão sincera

comigo mesma.


Feliz? Nem sei

Felicidade nunca foi sonho.

-a bravura de viver como quero

-a coragem de ser e não ter

-a paz de nunca pedir perdão

eu mesma afago o meu coração.


enfim, sou deveras Vera!



sábado, 26 de junho de 2021

SEM AMIGOS

 


DOIS MIL , NOVECENTOS E TRINTA E TRÊS DIAS

 Dois MIL, NOVECENTOS E TRINTA E TRÊS DIAS

                                                                         Vera Popoff

Dois mil, novecentos e trinta e três dias

contados um a um, riscados no calendário,

escritos em cada parede:

-Amanhã , vou embora!

       e não fui...


Dois  mil, novecentos e trinta e três dias

sonhando dormindo e sonhando acordada

com a partida, a despedida, com vida desinibida.


Dois mil, novecentos e trinta e três dias

Tão pobres de alegrias e cheios de agonias.

Do que me serviu tanto  enfastio?

Como não cumpri este desafio?


Travada ,com a cara encharcada 

    da lágrima solta

Vestida com roupa rota,

acima do peso

abaixo do enlevo.


TENTANDO ESCREVER UM SONETO

 TENTANDO ESCREVER UM SONETO

                                                           Vera Popoff


Faz tempo que não escrevo 

Faz horas que nada leio

Faz anos que nada atrevo

Começo e paro no meio.


Transformei-me numa amadora de ações

Tudo que faço acaba depressa demais

ou perdura e machuca tantos corações

Nem eu mesma já ouço os meus" ais ".


No pensamento, mil ideais

nunca passam do imaginário

sou enganada por qualquer otário.


Sigo assim ..matando o tempo

Já nem sei onde dói e porque dói

tampouco qual é o mal que me destrói.

CASA SEM NÚMERO

 CASA  SEM NÚMERO

                            Vera Popoff


Moro numa casa sem número

Rua tal e qual, S/N

Bairro sem nome

Cidade sem referência

Cheguei de endereço sem procedência.

Colocaram-me aqui

- Mas não quero viver aqui!

Não é o meu lugar, tampouco meu lar.

--Faremos que fique, ainda que aborrecida, pois , pois,

estás na porta do sol!

mas a mim  não aquece

        o tal sol.

por mais que tente, jamais sou

contente

    Lá se foi quase década

É tempo demais tentando não desgostar

pinturas, desenhos,  retalhos

 calculados em polegadas, costurados e

nada adianta

a casa está sempre feia, tão feia 

sem o meu reconhecimento

sem dela receber um acolhimento.

    

Fui ficando, por fraqueza de espírito,

por falta de fé,

por num deus, já não crer

sem saber o que é querer.

Não tenho o comando da vida

encarcerei-me...

pois daqui jamais sairei.

aqui, desgraçadamente, morrerei.

joguem as minhas cinzas no esgoto

            do Rio Tietê.



 ENTRE  MUROS

                                  Vera Popoff


Entre muros opressores 

Levantados por alguns vis  enganadores

vou fingindo que respiro

interpretando a mulher coragem

uma grande mentira, a falsa miragem.

Condenada à sentença pesada

sem direito ao habeas corpus

por um dia, uma hora , um minuto.

Trancafiada numa cela do desprezo

sou meu próprio carcereiro

controlo o espaço desanimador

sem horizonte

sem a fonte de beber

sem o meu livro rasgado para ler.

a cara no muro

a energia já falecida

a esperança desaparecida

Oh...mulher fiteira!

queres mais do que tem?

- quero só o meu sonho 

que foi roubado

quero o caminho de volta

um atalho

um retalho para  remendar ,

cerzir , consertar 

a vida fingida que me foi destinada.