CASA SEM NÚMERO
Vera Popoff
Moro numa casa sem número
Rua tal e qual, S/N
Bairro sem nome
Cidade sem referência
Cheguei de endereço sem procedência.
Colocaram-me aqui
- Mas não quero viver aqui!
Não é o meu lugar, tampouco meu lar.
--Faremos que fique, ainda que aborrecida, pois , pois,
estás na porta do sol!
mas a mim não aquece
o tal sol.
por mais que tente, jamais sou
contente
Lá se foi quase década
É tempo demais tentando não desgostar
pinturas, desenhos, retalhos
calculados em polegadas, costurados e
nada adianta
a casa está sempre feia, tão feia
sem o meu reconhecimento
sem dela receber um acolhimento.
Fui ficando, por fraqueza de espírito,
por falta de fé,
por num deus, já não crer
sem saber o que é querer.
Não tenho o comando da vida
encarcerei-me...
pois daqui jamais sairei.
aqui, desgraçadamente, morrerei.
joguem as minhas cinzas no esgoto
do Rio Tietê.
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