BOLO COM CALDA DE LÁGRIMAS
Vera Popoff
Depois do almoço, cozinha arrumada,
louça guardada, saudade acrobata
saltando no meu coração!
Um desejo, de repente!
Na hora do lanche da tarde
um bolo do agrado delas!
O gosto da terna alegria
toda tristeza, dissolvia!
Assadeira, batedeira, maçã raladinha
banana picada, açúcar, leite e carinho!
Batendo a manteiga, os ovos e a farinha
As claras nas nuvens viravam uma festa
As vozes felizes , aparavam as arestas!
A lembrança avivada, a voz exigente:
-Mãe, demora o meu bolo?
-Eu quero o primeiro pedaço!
-O primeiro pedaço é meu, pois sou a caçula!
-Deixa eu lamber a vasilha com a mistura?
A massa está boa, consistente ,amarelinha
Mas estou tão sozinha!
O forno está quente, as meninas voltaram...
estão no meu peito!
Dentro da massa , a minha ilusão!
Tem gente esperando com o pires na mão!
Que capricho! Benfazeja hora de bater o bolo
De sentir a doçura derretendo no ar
E a maciez da ternura a vibrar
As mãos ainda são bem ligeiras,
Apoiada na mentira da companhia,
retomo a tarefa. A boca que era tão doce;
agora é amarga com o gosto da solidão!
Ouço outra vez a voz de uma delas
É o eco soando na alma:
-Mãe, que demora!
-Calma, o bolo está crescendo!
E a tristeza teima, vai nascendo,
dobrando o volume no fermento
do bolo.
Pronto! O bolo está pronto!
Falta a calda, mais leve ou espessa?
Com cravo ou canela?
Chocolate ou groselha?
Laranja ou geléia?
A lágrima rola na palidez do rosto...
Cai no bolo que está sobre a mesa
Eu faço um café bem forte
Experimento o bolo, que hoje...
tem calda bem diferente
Calda feita da lágrima insistente!
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