RASGA O VERBO , POETA! (Vera Popoff)
A mesa do poeta está empoeirada.
A caneta , ao lado, pousada.
A folha em branco, amarelada.
A ideia buscada chegou desencontrada.
A inspiração foi apagada e a primavera
que poderia ser cantada, foi desperdiçada!
As cartas colocadas na mesa foram trocadas,
mal jogadas!
A sua voz, poeta, está ultrapassada!
O poeta está sem fala!
Já cantou o horizonte de magia,
versou a paixão que contagia!
Sonhou os mais tolos sonhos
Bradou os seus desenganos
Descreveu um porvir risonho!
Lambeu a sua cria
fingiu ser sincero... quando prometia.
Sua esperança, de esperar, já se desgasta!
E a vida do poeta passa...
As portas abertas num dia,
foram fechadas n'outro dia!
Nem mesmo a dor que mata, o desafia!
O dourado do sol foi tão cantado!
O assunto está esgotado.
A traição foi sentida e cuspida!
A saudade, de tão falada, está esquecida.
-o céu azul
-o verde mar
-a nuvem caminheira
-o verdor da árvore passarinheira
-a flor destroçada
-a rosa desabrochada
-a fé abalada
- a noite estrelada
-a lua prateada
A musa , o beijo, o olhar, as manhãs e
o recomeçar...
As mangueiras , laranjeiras e goiabeiras
O doce sabor da fruta e o carinho que desfruta.
Tudo foi dito, escrito e reescrito.
E agora, poeta?
Abra o seu peito, joga fora o temor!
Rasga o verbo, poeta!
Existe ainda um tanto de amor!
Quem nasceu cantador
sempre será um trovador!
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