terça-feira, 23 de junho de 2015

RASGA O VERBO, POETA!

RASGA O VERBO , POETA!                                    (Vera Popoff)


A mesa do poeta está empoeirada.
A caneta , ao lado, pousada.
A folha em branco, amarelada.
A ideia buscada chegou desencontrada.
A inspiração  foi apagada e a primavera
que poderia ser cantada, foi desperdiçada!
As cartas colocadas na mesa foram trocadas,
                     mal jogadas!
A sua voz, poeta, está ultrapassada!

O poeta está sem fala!
Já cantou o horizonte de magia,
versou a paixão que contagia!
Sonhou os mais tolos sonhos
Bradou os seus desenganos
Descreveu um porvir risonho!
Lambeu a sua cria
fingiu ser sincero...  quando prometia.

Sua esperança, de esperar, já se desgasta!
E a vida do poeta passa...
As portas abertas num dia,
 foram fechadas n'outro dia!
Nem mesmo a dor que mata, o desafia!

O dourado do sol foi tão cantado!
O assunto está esgotado.
A traição foi sentida e cuspida!
A saudade, de tão falada, está esquecida.
                 -o céu azul
                 -o verde mar
                 -a nuvem caminheira
                 -o verdor da árvore passarinheira
                 -a  flor destroçada
                 -a rosa desabrochada
                 -a fé abalada
                 - a noite estrelada
                 -a lua prateada
A musa , o beijo, o olhar, as manhãs e
                 o recomeçar...
As mangueiras , laranjeiras e goiabeiras
O doce sabor da fruta e o carinho que desfruta.
Tudo foi dito, escrito e reescrito.
E agora, poeta?

Abra o seu peito, joga fora o temor!
Rasga o verbo, poeta!
Existe ainda um tanto de amor!
Quem nasceu cantador
sempre será um trovador!


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