CHEGA
Vera Popoff
Agora, chega!
Nasci, chorei, cresci.
Amei quem não amou o meu amor.
Escolhi caminhos tão penosos!
Iludi-me e desiludi-me
Apaixonei e me desesperei
Participei de todas as lutas
que passaram por mim, glórias e inglórias
Plantei mil árvores e escrevi folhas em branco
Poesias e textos lidos, não lidos, irrelevantes.
Pari, amamentei e chorei todo tipo de dor
Sorri algumas alegrias, mesmo não tendo sido
verdadeiramente, inteiramente e inconsequentemente alegre.
Arrisquei-me mais do que podia
Recolhi tantos cacos!
Alvejei tantas nódoas!
Remendei tantos trapos!
Andei muito além do desejado
Dancei passos mal marcados
Abdiquei dos sonhos mais lindamente sonhados.
Fui tola, fui ingênua , fui pequena e fui tão grande
quando exigiram-me crescimento.
Mas agora, cansei o cansaço "mais grande"
que se pode cansar!
Sento-me, então , sob árvores que plantei
Recosto-me no barranco mais próximo
Deito-me na relva e espero...
um colibri, uma canto do sabiá,
um cheiro bom do jasmim.
Acaricio as pétalas das rosas escolhidas, no jardim
Aprecio a construção do ninho e
emociono-me , apenas e tão somente , com os pássaros , e as asas dos passarinhos.
Sair do meu quintal para ver o quê?
Convidada, não vou às festas
e já não vivo de aparar arestas.
Chega de exposição e decepção
Chega de querer convencer e esmurrar
o mal querer
Chega de lembrar o que desejo esquecer!
O mundo fora da minha porteira está tão feio!
Tanta dureza, aspereza e nas almas,
pouca nobreza.
A justiça é seletiva e cruel
As palavras com gosto de fel!
Gosto mesmo é de lamber a própria mão
lambuzada de mel.
Dane-se! Cansei!
Mas se precisarem de mim...cheguei!
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