quinta-feira, 22 de novembro de 2018

CUIDAR DE MIM

CUIDAR DE MIM
                                             Vera Pópoff

Não olho o relógio
As minhas horas sou eu
Eu sou as minhas horas
Coordenadas e combinadas
Eu não as perco
Elas nunca me perdem.

Quando a brisa sopra
na janela sempre aberta
A consciência desperta
Espreito a aurora
Os pássaros saem dos ninhos
Levanto do berço que me aninhou.

Saio para a rua
Conheço cada pedaço
onde marco o meu passo
Faço a vigília sob o céu indeciso
Será azulado?
Ficará carrancudo e nublado?

Minha prece são as lembranças
O humor decidirá o movimento da dança
Allegro , Andante ou Adagio
Ou mesmo uma sonata
que faz debulhar meus olhos
e mergulhar minh'alma em Abrolhos.
FOTO DO AMIGO CLEDSON FALQUEIRO

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

BURACO VERDE

Um buraco verde
Vera Popoff
Ouço vozes chamando,
insistindo, buscando onde estou.
Finjo não ter ouvido ...
Nem a voz, nem o grito, nem o gemido .
Minha cabeça está enfiada
num buraco verde .
Eu mesma cavei
Eu mesma plantei a cabeça
que brotou,
enraizou,
decidiu e ali ficou.
Exaurida de esperar a esperança
que não chega,
Desiludida da ilusão esmagada,
Desanimada de erguer a cabeça
para um céu que não responde,
De chamar pela verdade que se esconde,
Enterrei a cabeça num buraco verde.
Feliz? Não sei.
Mais confortável , talvez!
Escutando pouco.
Falando o necessário, apenas
Exorcizando as minhas duras penas.
No buraco verde desfolho as ideias,
uma a uma
Lanço as sementes que irão brotar
um dia.
Engalho as minhas fantasias.
E só tenho olhos para a flor
que inda não abriu
O fruto verde que será tão doce,
quem sabe...num outro novo abril.

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LAMENTO II

LAMENTO II
Vera Popoff
Eu queria ser alegre ,
Mas sou tão triste!
...
Eu queria ser flor,
mas sou o espinho!
Eu queria ser carne,
mas sou a pedra!
Eu queria ser o vinho,
Mas sou a água!
Eu queria ser o rio,
mas sou o córrego!
Eu queria ser o mar,
Mas sou areia!
Eu queria ser o fogo,
Mas sou as cinzas!
Eu queria ser a filosofia,
mas sou a banalidade!
Eu queria ser esperança,
Mas sou o desespero!
Eu queria ser presença,
Mas sou uma saudade!
Eu queria ser verdade,
Mas sou a mentira!
Eu queria ser coração,
mas sou a cética razão!
Eu queria ser paixão,
Mas sou a indiferença!
Eu queria ser a fé,
Mas sou a descrença!
Eu queria ser a pureza,
mas sou a crueza!
Eu queria ser inteira,
Mas sou apenas, cacos!
Eu queria ser o vermelho,
Mas sou o bege!
Eu queria ser a brisa,
mas sou o ventania!
Eu queria ser o nascer do sol,
Mas sou o bucólico ocaso!
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MEUS OLHOS

IMAGENS
MEUS OLHOS

                                                           Vera Popoff
Meus olhos enxergam tão pouco!
Embaralham e já não pincelam paisagens....
Um astigmatismo deforma a imagem da minha fé!
Cataratas apagam algumas ilusões
Lágrimas que não umedecem, apenas,
entristecem.
Os óculos já não harmonizam o meu rosto
Hoje, são penduricalhos mal equilibrados ,na cara desapontada .
Encosto o livro quase no nariz
Leio poucas palavras,
Não distinguo, no céu, a nuance,
o matiz!
Fotos desbotadas
Telas apagadas
Tons misturados
Névoas na janela
Caminhos , quase todos,
já percorridos.
Derradeira estrada olhada
com a nitidez do coração .
A visão turva , enxerga bem , o amor
O pensamento ávido dá os ombros,
às dificuldades e à dor!

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PENSAMENTOS

PENSAMENTOS
 
 

                        
 
 
 
Pensamentos

                        Vera Popoff
Escondo os pensamentos,
não os prendo, apenas escondo.
Eles saem, voam , viajam,...
constróem, amam e enriquecem
quando desejam ou
exasperam-se, quando indignados.
Entretanto , ficam protegidos
da intolerância e da maledicência .
Num paradoxo, estão mais libertos
quando guardados.
Chegam nos intocáveis zombeteiros
Detonam os injustos justiceiros
São agudos contra os farsantes
E debocham dos vulgares e patéticos.
Atingem em cheio as crueldades insólitas
Cospem nos ignóbeis tiranos.
Enchem-se de ternura pelos oprimidos
Condenam ao inferno,
um a um...os opressores.
Amaldiçoam os que fazem sofrer
uma criança.
São implacáveis com os cruéis que pisam desamparados e assassinam
os desfavorecidos.
Mas sorri e aconchega um irmão
perdido

 
 
 

ENVELOPE FECHADO

ENVELOPE FECHADO
                                                Vera Popoff
Tudo que não pode acontecer...acontece!
Tudo que não pode ser ...é!...
No momento, tudo dói,
tudo é subtraído , tudo causa espanto.
Carteiro na porta com olhar sem sonhos
A correspondência não foi aberta
e nem será!
Deixa pra lá!!
Envelope fechado pode guardar uma esperança.
Não a deixo escapar!
Vou esperançar...

LABIRINTO

LABIRINTO
                               Vera Popoff


Labirinto
                                                   Vera Popoff
Vivo um momento difícil!
Moro num labirinto....
Entrei ,
não encontro a saída.
Decido pela alienação
Assim , não enlouqueço,
mas preciso ser louca ,
se desejo viver.
Resolvo cuidar de flor
e conto-lhes as pétalas
Numa alquimia , separo e misturo os aromas.
Descontente, mudo o rumo do dia
Misturo tintas, pincéis e lixo a madeira,
lixo um caixote,
lixo um banco velho, do avô,
lixo os arranhões da minh'alma.
E vou ao fogão...
Cozinho o grão e amasso o pão .
Abro um livro, leio, ressalto a frase tocante e grifo e rabisco.
Volto à máquina antiga e passo uma tarde , cosendo :
remendo e remendo
as saudades
as lembranças
As destemperanças !
E volto às notícias, que azedam
o testado humor!
Tem um bom tempo que não são boas!
Indigno-me e impaciento-me.
Procuro um amigo que diz...
coisa boa de ouvir.
Um passo pra frente
Dois passos à esquerda .
O livro esquecido me espera,
aberto na página lida e relida .
Repasso a leitura
Invento uma história bonita
Agrado o meu coração
Repouso...
Amanhã...reinicio do ponto,
onde a reta da vida começa
e recomeça.

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SEM MAGIA

SEM MAGIA
                                  Vera Popoff

SEM MAGIA
                                       .    Vera Popoff


 Já não me importo com a roupa que visto
Se esgarçada, cheia dos buraquinhos do tempo...
Se a cor está ornando ,
ou o modelo combinando.
E nem me importo com os sapatos
Para meus pés, bastam alpargatas
leves e baratas,
Meio rasgadas, dão mais conforto
aos meus pés já tão cansados!
Não abro mão de andar perfumada,
Água de alfazema ou jasmim.
E um batom carmim
pincelando os lábios, que no espelho,
sorriem pra mim!

Tampouco ligo para cardápio variado ou sofisticado
Arroz e feijão temperado
Um tomate enfeita o prato ,
ovo caipira e galado, farofa de banana e limonada do limão rosa.
Recebo visitas das filhas, genros e netos
Abraço -os com o calor do meu corpo
Enxergo-os com olhos de amor
Ofereço presentes de mudas de flor,
galhos de alecrim, sementes de pimentas
e margaridas do campo.
Remendo lençóis muito usados
Cobertas de tricô à mão!
Café a toda hora
Bolo de fubá
Por que , mais da vida?
Cumprimento a quem passa com sorriso e aceno de mãos
Conhecida no pedaço como a velhinha que caminha sorrindo
Sim! Como dói, muitas e muitas vezes, o meu coração.
Guardo bem trancada minhas dores
e derramo meu riso.
Não vejo TV, não entro em shoppings . Causam gasturas.
Prefiro outras formosuras.
Amigos me acalmam, nas aflições
-"Calma , Vera! O rio sempre corre para o mar..."( Fabio Ortiz Jr)
A filha consola:
-"Mãezinha, relaxa sua cabecinha!"
A Natureza acena feito a poesia
que jamais serei capaz de escrever.
Sou apenas a mulher simples, nenhuma magia!

SONHOS SONHADOS

SONHOS SONHADOS
                                                 Vera Popoff

Os sonhos devem ser sonhados
Apenas, sonhados.
Realizados materialmente, emocionalmente , conscientemente
ou inconscientemente.
Nos meus sonhos ninguém manda, nem determina,...
Não absolve e tampouco condena!
São o que há de mais forte e verdadeiro em mim ! Os sonhos.
Posso vê-los ou vivê-los
sem me ausentar
sem partir
sem chegar
sem viajar
sem voar
ou aterrizar
São os meu sonhos: ninguém entra ,
ninguém sai.

ENVELHECI

ENVELHECI

                                   Vera Popoff


ENVELHECI
                                   
                                                                    Vera Popoff
Envelheci e não gostei de envelhecer
Porque envelheceram juntos...
os mais bonitos sonhos
e a pele lisa e macia.
O corpo adoeceu...de dor!
Os olhos embaçaram
As ilusões desembarcaram
A alma desbotou-se,
descolorida está.
As canseiras ficaram grandes
Uma moleza esquisita
Outra tarde fria e aflita.
Adormeço sem vislumbrar
nenhum amanhã...
Não faço nem mais conta
do tempo
A memória ficou mais longe...mais longe..
tão longe...
Levada pelo vento.

Desconfio que desta vez,
cansei

ABRIU A FLOR

Abriu a flor!
                                         Vera Popoff
Amanheceu...
Tudo cinzento e um vento...
balançava as folhas das árvores
Daquelas que plantei!
Plantei-as para quem vier depois de mim.
Meu coração gemia um pouco
Seria saudade?
Seria indisposição para a luta do dia?
Seria impotência, diante das dores?
Seria a falta do sol nascente?
Sem resposta
Sem entendimento...segui
adiante.
Tudo parecia já distante
Um passo em falso e um susto
Uma agudez no peito
Um aviso
Um improviso.
Foi quando abriu uma rosa
dentro de mim!
Abriu uma flor em mim?? Indaguei.
Abriu uma flor em mim...

A NOITE

 
A NOITE
                                      Vera Popoff
 A noite chega
Treme o meu corpo
açoitado pelo medo....
Soluça o coração que abriga
A dor e seus segredos.
A noite chega
Ela é assim
vagarosa,
densa,
tem som sutil que assusta e pia
e o vento ardiloso, assobia.
A noite
Mais uma noite
Mais um açoite...

A SEMEADURA

A semeadura
                                                Vera Popoff
Acordei e semeei margaridas
Nasceram tão alvas e mimosas ...
enfeitaram meu espaço
Adornaram o meu coração!

Semeei petúnias coloridas
A jardineira ficou florida
Meu vizinho as invejou:
-Dividirei contigo , as sementes
Espalhemos na nossa rua
Um tanto de cor e perfeito amor
Teu canteiro , antes triste e árido
Agora tem beija-flor ávido.
Semeei laranja lima, girassóis
Colhi raios luminosos do sol!
Semeei um sorriso e colhi delicadeza
Semeei boas palavras e gratidão
Colhi ternura e ramalhete de emoção.
Semeaste o quê?
Grosseria , violência, vingança, discursos de baixo calão?
Pessoa! Que piedade eu sinto de ti! A tua colheita será de espinhos
Podes uivar , sangrar ou não sangrar!
A tua colheita será ramalhete de funesto azar!

SOU EU

SOU EU
                        Vera Popoff

 Angustio-me olhando aeroportos
Indicam partida e gosto de chegar
na minha casa,...
onde construí meus próprios portos.
Sempre entro feliz na minha casa
Sinto falta dos sábias e dos colibris
Suspiro fundo ao cantar da buriti.
Roupas elegantes me cansam
Tolhem os movimentos
Atrapalham a liberdade.
Coloco avental resistente às travessuras
Vivo quieta e sem frescura.
O turismo é pelo quintal
Onde existe uma minúscula catedral.
Televisão irrita-me
As verdades são restritas
O cinismo é tão baixo e frio
Ninguém importa-se com os brios.
Ouço música e saio pouco
Incomodo-me com qualquer barulho
Suporto apenas a leveza , o movimento e a graça
da brisa.
Com sutileza , meus pés, o chão, pisa!
Faço política sem raiva
Minha atenção é para a liberdade
Almejo mesmo, a igualdade!
Ninguém faz serviços por mim
ou para mim
Lavo a minha roupa
Faço a nossa sopa
Cozinho feijão rosinha
como a chefe da própria cozinha.
No céu , não tolero, o avião
Prefiro o bem te vi e até
o gavião .
Chuvas são bem vindas
Ventos vindos do sul
Horizonte perto e azul.


TEMPO, TEMPO, TEMPO

Tempo...Tempo...Tempo
                                                          Vera Popoff
Angustiada, magoada, indignada
ou arretada
Conto com o conta gotas do tempo...
Oh...tempo, dá-me um tempo!
Resolvo tudo sem contratempo

Chorosa, lamuriosa, manhosa,
peço ao tempo, melhor tempo!
O tempo passa mais rápido ou lento
Depende da decisão a tomar
Ou da vitória chegar!
Desprezada ou bem amada
Deixo o tempo passar
O amor de ontem se vai
O de hoje, vem me abraçar .
Uma lição aprendida
Não canto o ganho ou a perda
  antes do tempo
Tanto posso perder, como ganhar
Se tenho a favor ou contra
o tempo a passar.
Senhor da razão é o Tempo?
Senhor da razão, sim...
É o tempo!
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CONQUISTAS

CONQUISTAS
                                       Vera Popoff
Escavei dentro da alma
Encontrei um galho enterrado
Era o galho da liberdade...
Só então, nasci de verdade!

Eu não suspeitava que havia aquele sonho na minha cabeça
Até encontrar-me com ele
E enxergar mais longe,
e apesar do astigmatismo,
Aprendi com as flores,
o mimetismo.
Quando imaginei não ter nada
Percebi que tinha tanto!
Assimilei ideias deles, delas,
refleti e enriqueci.
Hoje, vivo das conquistas
alcançadas com a liberdade de ser,
de pensar , de sonhar
De saber que está tão perto
O que mais quero!

TRAVADA
                                                   Vera Popoff
Em alguns momentos sinto que fico travada.
Vou ler e não leio...
Quero falar e engasgo
Penso no trabalho a fazer
e nada produzo
O fogão fica sem a panela
O varal sem a roupa estendida
O chão sem a vassoura
Os móveis com pó!
Fico travada.
Saio a caminhar ...
Vou tão longe que fica difícil voltar.
Tento escrever e esqueço a gramática:
Verbo haver, verbo ver, verbo crer
Já não sei conjugar.
As flores, meu maior mimo,
o doce aroma, o tom, o som
deixados de um lado
esquecidos , largados.

A esperança, num canto...
será que consigo alcançar?
É o momento de parar
porque nada flui
Nem aumenta e nem diminui.
O Dr. comentou:
-É transtorno de ansiedade!
-Transtorno, Dr???Na minha idade?
Não será a caduquice?
Ou um resquício da passada mocidade?
São nos momentos decisivos
Que acomete-me o mal incisivo.

ESTÁ TUDO ERRADO

ESTÁ TUDO ERRADO
                                                  Vera Popoff
Os tempos estão difíceis
Os dias longos demais...
Caminho por ruas
que não gosto de caminhar!
Paro nas esquinas que não gosto de dobrar
Ouço orações que me incomodam
Adorações que repugnam
Emoções que me afastam
E hipocrisias que me assustam.

Caminho por ruas que não me fazem bem
Dobro esquinas, cuja ilusão, está aquém !
Os meus acenos são desolados
Os meus sorrisos , amarelados!
Nasci na cidade que não me atrai
Cresci n'outra cidade, onde as alegrias  foram banais.
Lutei combates que me sustentaram
Mas a Pátria do" gado feliz "
Das laranjeiras sem sabiás
Deixou de ser a Pátria Amada
É a Pátria da hipocrisia
Eu nasci na Pátria errada!
-Socorro, Mãe!

POR ENQUANTO

POR ENQUANTO
      
POR ENQUANTO
                                                                 Vera Popoff
Por enquanto, não vou digitar mais nada
Por enquanto ,vou dar um tempo!...
Levei um soco no queixo
Outro soco no coração
E não tenho o dom do perdão
O que foi feito
Definitivamente , foi feito!
Contei até dez
Contei dez vezes dez
E a paciência se esgotou
Estou sem palavra e vazia de emoção
Bateu a desilusão
Não há sonho que resista
A um  balaio de traição.           



                                 Vera Popoff

POR FAVOR

POR FAVOR
                 Vera Popoff
Se tu me disseres:
-Foi a vontade de Deus!...
- Deus está no comando!
-Glória a Deus!
- Deus deu e Deus dará
- Deus provê e Deus proverá!
Eu respondo que tu és um alienado, sentado, desfigurado, atrasado, atrapalhado, abestalhado!!
Convença-te de que és um despreparado e que joga teus inúteis e pobres argumentos, as  as tuas ações impiedosas e inconsequentes
Nas costas do teu Deus!!

PARTIDA , QUEBRADA E RASGADA

PARTIDA, QUEBRADA E RASGADA
                                                     . Vera Popoff
Eu estou partida.
Quebrada em centenas de pedaços. ...
Precisarei de uns dias para colar todos os cacos
Remendar a pele dilacerada de dor
Ajeitar a cabeça que levou uma paulada e ficou tonta,
desprovida de raciocínio lógico.
Ainda , equilibrar as pernas exaustas
Fazer compressas nas mãos doloridas.
O baque foi forte.
As asas de sonhos perderam as penas
Estou tal e qual , passarinho na gaiola ,
olhando triste o voo alheio.
Tenho os olhos molhados
A alma encharcada
A energia pesada
Quanto tempo levarei na UTI particular?
Jogada num canto, letárgica e perplexa?
O mal da desilusão não é curado com soro e nem unção.
Talvez , a meditação
Já que oração eu não sei dizer
E por Deus eu não juro e não clamo
Afinal, Ele não fez de mim,
um ser incapaz e insano!

 
 

MEDITANDO

MEDITAÇÃO
                        Vera Popoff
Caminhando e chorando
eu sigo.
Não há canto a me encantar
Não há cova capaz de me esconder
Não há beco capaz de me guardar
Não há mais sonho pra sonhar
Não há força que me impulsione
Não há dor que me abandone
Não há alegria para dividir
Não há esperança para distribuir
Sou descontente porque sou humana
Piedade eu sinto do homem contente
Daquele que do fardo se ausente
Da erma alma pobre das mágoas
Da vida plena sem inquietude
Da serenidades falseada , sem as tormentas
Do corpo ungido
sem jamais ter dividido.

DESABAFO TOLO

DESABAFO TOLO
                               Vera Popoff

Vivo num lugar deprimente.
Um residencial enorme, com o vírus da ostentação espalhado por todo lado.
Minha mudança para cá foi um dos tantos equívocos que pratiquei na vida. Mudança sendo descarregada do caminhão, banhada pelas minhas lágrimas. O momento era difícil, fragilidade física e emocional, exaustão; foram fatores que interferiram nas minhas decisões. Decidiram por mim. Eu , calada, aceitei. E por aqui, já são cinco anos sem o tempero da emoção, da identidade com o lugar, da total falta de empatia e simpatia, com tudo. Somados ao meu desprezo e nenhuma boa vontade.

MOMENTO

MOMENTO
                                         . Vera Popoff
Meus olhos fecham.
Às vezes dormem , ...
Outras vezes, fingem dormir
Assim não enxergam
nem lacrimejam a tristeza.

Fui acostumada à dor
Na vida inteira eu doí*, ( *licença!)
eu perdi, eu caí, eu ardi.
Continuo a falar e até a gritar
Mas tenho tão pouco a ouvir
O que dizem ...já não me comove,
nada acelera e nada me move!
A manhã não ajuda
Sem brilho e sem sol
Prenuncia a falta do riso,
e para minh'alma...mais prejuízo.
O sistema corroeu o meu sonho
Os mitos de papel rasgado
Desprezaram a ilusão colorida
de papel machê.
Seguem meus tristes olhos
O caminho vazio, o verdor desbotado,
a serra, a arma, o machado,
o terror!
As fontes secaram
As conversas enjoaram
As flores murcharam
As águas rolaram e ao esgoto
chegaram.
Perdi-me
Perdi-te
Perdemo-nos
Já sentimos receio de amar.
Na falta de bem maior
Da utopia sem sinal
Vou pendurar a roupa lavada
no varal.
Que dia!
Que dias!
Que tempo vago, triste...
Nem mesmo ...um vento!

SE ME AUSENTO


SE ME AUSENTO
                                    Vera Popoff



Se me ausento é porque
certas atitudes eu não aguento
 É porque não me sento
Sobre as indignações
e a falta de senso ao bem comum
...
Se me calo é porque quando falo
 as  palavras não metem -me medo
Eu digo o que sinto,
o que pressinto
e se doeu...doeu.

 O que espanta-me
O que aterroriza-me
 é a  violência , a grande indecência
O ultraje, a omissão
são parentes ardentes
 da infeliz acomodação.

Se tiro o meu time de campo
Antes do apito final
Não o faço por covardia,
Mas por agonia
Ao ver a bola que rola
Sem compromisso com o jogo
Ora sujo, ora desleal, ora um descaso ou a tática simplória
e banal.

Simpática, agradável , risonha
eu sou
Cozinhando, servindo, atendendo,
sendo...
 solícita e tão delicada
Mas se passo do ponto,
 debato uma ideia, vou fundo
na convicção...aí não!
Radical, antipática, ingrata e dura, faço da água fresquinha, uma fervura!

NOSSAS MÃES

NOSSAS MÃES
                             Vera Popoff

Os sorrisos das nossas mães nunca vão embora,
ficam sempre nos nossos olhos.
As palavras das nossas mães permanecem nos nossos ouvidos.
O amor das nossas mães eternizam-se , em nós .
As nossas mães nunca partem , ...
estão presentes nas nossas almas.

ERA MENTIRA

ERA MENTIRA
                                Vera Popoff


ERA MENTIRA
Vera Popoff
Era mentira.
Era mentira aquele povo cordial, simples e misericordioso.
Era mentira a mão do preto...
entrelaçada à mão do branco.
Era mentira o desvelo com a mata verde
Era mentira o acolhimento e o entendimento.
Era mentira aquela solidariedade, os vínculos fraternos.
Era mentira o sorriso franco e o coração aberto.
Era mentira o espírito cristão, a caridade, a ternura.
Era mentira a visão e a alma abrangentes, grandes, tão iluminadas!
Era mentira "o sol da liberdade em raios fúlgidos e as margens plácidas"
Era mentira "o sonho intenso, o raio vívido, de amor e de esperança
descendo à Terra!"
"Mas se ergues da justiça a clava forte"...ou a clava nas garras de justiceiros , omissos e coniventes com as barbáries?
Que tempos! No peito, uma inquietação, uma desolação, uma grande desilusão!
Mas no mesmo tempo da dor,
um vigor!
Uma enorme vontade de resistir, de falar e olhar os outros olhos,
de ouvir ao mais sensíveis,
os mais sábios,
de ler artigos esclarecedores,
de trocar abraços e sorrisos
para amenizar o desassossego.
Não tenho ideia de como será,
e o que será,
mas precisamos fazer virar verdade...
o amor
que era só uma mentira.

SEMPRE NOITE

Simplesmente Verinha
 
SEMPRE NOITE
                               Vera Popoff
                                                  
É sempre noite.
Não amanhece, não amanheceu...
não amanhecerá
      outra vez?

Ouço os grilos que criquilam
Os pássaros que chilream
Maritacas espalhafatosas
Mas olho pela janela e está escuro.
Não amanheceu, ainda?
Saio pelos recantos
Caminhando sem destino
Campeando a esperança
Buscando a minha alegria caída, perdida entre as flores do campo.
Tateando os botões das rosas teimosas
que não desabrocham o seu encanto.
Qual grave pecado terei cometido?
Sinto o vento no rosto pálido
O mesmo vento que desenha as nuvens
As formas são monstruosas:
-homens adormecidos ou distraídos
-semblantes tão descorados!
-crianças aquietadas
-casas sem os alpendres
- janelas e portas fechadas...
Imagens frágeis, sombrias
Procuro o riso perdido
entre as folhas caídas ao chão .

PERDEMO-NOS

PERDEMO-NOS
                                     Vera Popoff

Perderam-se de mim
todas as amigas de infância.
Perdi-me delas e não valeu a pena
            reencontrá-las.
A distância estabelecida
é grande demais e o caminho
     tortuoso demais!
Tantas sombras nos corações!
Os mesmos sonhos não são mais sonhados
A luz que nos cobria
mudou de foco , nos dividiu.
Ao bater das asas, voamos opostamente
Eu alcancei as nuvens do céu
Elas partiram as asas
num rochedo devastador.
Tentei o alerta do perigo à vista
Mas foi deflagrada  a guerra
 entre os  nossos deuses.

E não senti, não chorei
Num minuto, lamentei e retomei
              meu voo alto.

O abismo entre as nossas almas
foi  desenhado pelas escolhas desencontradas.
Uma de nós ...chegou perto do céu
As outras cobriram-se do véu.

Elas querem falar e eu recuso-me a ouvir
O que desejo dizer
elas se incomodam ao escutar.
Triste enxergá-las  ausentes
Da tristeza que o povo sente

Assim passaram-se anos,
 Meio século de diferenças
A visão que minh'alma tem
É a cegueira que a elas convém.

Zerado. Eu não lhes escrevo
Elas tampouco leem.