DESFILE
Vera Popoff
Por que desfilas o mesmo olhar
sempre, sempre ,
sobre os mesmos horizontes?
Por que não buscas uma nova fonte?
Por que a tua vida não avança
e segue tão primitiva?
Teimas na mesma andança
Não te cansas?
Por que não abandonas a tua rotina?
Não oscilas? Não te intimidas
com tanta mesmice ?
Como suportas as próprias esquisitices?
Por que não te obrigas a novos rumos?
Perpetuamente, em torno dos mesmos sonhos,
Navegas nas mesmas águas,
desaguas as mesmas lágrimas?
Por que estás foragida?
Presa no teu cativeiro, tão esquecida?
Desfilas nas mesmas passarelas
No rosto, a mesma brisa?
Tropeças nas mesmas pedras,
Chamas sempre pelo mesmo deus
Sacodes as mesmas penas, das mesmas asas
Sob o mesmo firmamento
O sutil e tímido contentamento?
Num mundo vasto
Não colocas a tua nau para navegar
nos grandes e profundos mares?
Cavalgas nos estreitos campos?
Afinal, qual é o teu segredo?
Sentes algum privado medo?
Sentes as amarras de laços
nunca desamarrados
e nós jamais desatados?
Ou a tua alma enraizou-se,
na terra da paz?
E desfilas sobre um chão de folhas
e te basta um céu de estrelas,
e as ramas são os braços que te aconchegam?
A natureza enleia-te
Alimenta-te
Esperança-te
Serve-te
Oferece-te um doce ninho.
Contenta-te!
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