terça-feira, 23 de abril de 2019

O MORRO DO SABOÓ

 O  MORRO DO SABOÓ
                                    Vera Popoff
...
Habito num estreito vale
entre matas e montanhas,
próximo ao Morro do Saboó
O lugar parece triste para quem avista
E o lugar é mesmo triste para minha vista.
É mais triste ainda para o meu coração.
Meu coração trouxe para cá
um passado nunca esquecido,
uma saudade jamais vencida
E por isso, .aqui entrei chorando.
Permaneci amuada, exausta com as tantas perdas,
desiludida com as partidas.
Cheguei, querendo ir embora,
peregrinar pelo mundo afora!
Fiquei... desejando não ficar
Dias maçantes...um atrás do outro,
sem nada acrescentar à alma, então, vencida!
Nem mesmo a sensação de estar dividida.
Não , não! Sempre inteiramente decidida
a brigar com a vida, ou
a morrer calada,
num Morro que não arquitetei
Tão fora do meu espaço
tão estranho aos meus pedaços.
O Morro do Saboó , avistado lá adiante,
não me aconchegava..
Com a mania de semear
fui semeando sem ilusão, nenhuma ansiedade,
nenhum planejamento, vagarosamente,
para não me aperceber das horas
passando
na mesma cadência
Sementes lançadas, perto e longe.
Com total indiferença pela brotação,
um vazio de contentamento ,
apenas, para passar o insonso tempo.
E teimosamente, tudo foi brotando
Nenhum galho se importando
com a minha tristeza.
Nenhum dos sóis nascidos ,
próximo ao Morro do Saboó,
deixaram de brilhar
com o tanto de desencanto vivido.
O Universo desconhece nossas agonias,
os maus gostos , os desgostos.
O universo rege as suas leis
Independente dos sentimentos humanos
e banais.
O Universo é maiúsculo demais
para os nossos olhos e
para as pequenas
e humanas dores.
E nós somos minúsculos demais
diante de tal grandeza!
E próximo ao Morro do Saboó,
num triste e solitário vale ,
impertinentes mãos remexiam a terra,
cavavam, sem intenção ou inspiração
na brotação.
Jurando a todo momento, não mais insistir,
Blasfemando:
"O Teu jugo não é suave e o Teu fardo
já ão suporto!
Vou sucumbir, sem humildade,
sigo oprimida!"
Ainda passo os meus dias
próximo do Morro do Saboó.
Mas agora, vejo o desabrochar das flores,
os frutos da romanzeira, a voz dos sabiás.
Abraçam-me , os galhos dos manacás.
Nunca espero um amanhã.
Mas regozijo-me , calada,
a cada inesperada manhã!
"-TOMEI SOBRE MIM O TEU SUAVE JUGO
E O TEU FARDO JÁ É MAIS LEVE."

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