terça-feira, 24 de novembro de 2015

BOCA DA NOITE

BOCA DA NOITE
                                           Vera Popoff

Larguei o bordado sem terminar
Tantos pontos , ainda faltando...
De que me serve mais um bordado?
Se o meu coração anda tão sufocado?

Troco a roupa comportada e caio...
     na boca da noite!
-Que cheiro de perfume barato!
-Que desarmonia insólita e desigual!
Mas inspira-me um poema marginal!

Um calor faísca na cova do peito
que arde, queima , lateja e sofre !
No hálito da boca da noite
eu procuro , com desespero ,
a boca que levou meu beijo.

De viela em viela ...
Dos  botecos aos becos,
Nas avenidas perdidas de saudades
Nas esquinas de todas as solidões
Eu farejo o cheiro do teu  corpo
que impregnou no meu corpo.

O rosto aflito tem urgência
e nenhuma prudência!
Os olhos atentos procuram teus olhos
Minha boca marcada procura o beijo roubado.

Na boca da noite
sob a luz fosforescente,
Desvairada, não corro atrás
do  que a razão consente,
mas do  fogaréu da paixão ausente.

Cansada , retorno!
Nenhuma esmola de carinho
Nenhum gole de afeto
Só a dor do desafeto!

Suada, retomo o bordado
Os  pontos recomeçados
uma atrás do outro , desafiam
a paciência e a decência
       que já perdi!

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