OLHOS PEQUENOS
Vera Popoff
Olhos castanhos , tão pequenos,
embaçados de astigmatismo, mas...
veem as pedras do caminho,
a tempo
de livrar os pés do passo equivocado e
do ódio vazio e proclamado!
Olhos castanhos , tão pequenos,
embaçados de astigmatismo, mas..
como enxergam os espaços amplos!
E vagueiam insistentes e ligeiros
pela Praça da Liberdade,
onde voam pelos ares da igualdade!
Oh, olhos castanhos , tão pequenos,
embaçados do astigmatismo,
vislumbram laivos d'esperança
sua visão , um mundo novo, alcança!
Olhos castanhos , tão pequenos,
embaçados de astigmatismo, mas...
apesar das visões tão duras
fixam-se num céu abarrotado de ternura.
Olhos castanhos e pequenos,
embaçados de astigmatismo
usam lentes na leitura das poesias e
mergulham no lirismo das elegias!
Olhos castanhos e tão pequenos,
embaçados de astigmatismo,
percebem o galho que cresce,
salvam a rosa da ação predadora
que a entristece!
Oh , olhos castanhos, tão pequenos,
embaçados do astigmatismo, mas...
enxergam da vida , o mimetismo!
enxergam a fluidez da correnteza
percebem a dúvida na certeza.
Oh , olhos castanhos e pequenos,
embaçados de astigmatismo, mas
distinguem a pobreza das razões
embrutecidas , das vontades ruidosas,
das decisões enganosas.
Olhos castanhos e pequenos,
embaçados de astigmatismo,
conseguem ver a tristeza d'um amigo,
a mágoa guardada do pesar antigo,
a cicatriz do coração sofrido.
a vontade presa e reprimida
a amplidão do sonho a ser vivido.
Olhos castanhos e pequenos,
embaçados de astigmatismo
mas veem o brilho do sol, num sorriso!
Veem a alvura do jasmim que
embeleza e aromatiza
Veem a possibilidade da transformação,
a placidez da paz desejada,
a vitória da palavra sobre a angústia
d'uma voz calada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário