sexta-feira, 27 de novembro de 2015

CASA VELHA

CASA VELHA
                             Vera Popoff

O bom de viver numa casa velha
é que nela já viveram outras almas!
Deixaram algumas energias ...
percebo laivos d'alguma alegria
Encontro nas paredes, misteriosos semblantes,
 não visíveis com os  meus tímidos  óculos,
     mas tão nítidos na imaginação,
sem nenhum rastro de qualquer razão.

Desisto de decifrar os enigmas
Fico atenta aos sinais deixados,
aos tantos deuses aqui, invocados!
Uma parede que conservei desbotada
para certificar-me do gosto do outro
para atentar-me aos sonhos falecidos
para envolver-me nas teias tecidas
por mãos desconhecidas!

Na casa velha, já tão habitada
e , por isso, bem desgastada,
houve  muitas certezas,
algumas delicadezas
 e lágrimas em correnteza.
Muitos risos aqui , debruçados.
Luzes acendidas , outras , apagadas!

No quintal, árvores que desconheço os nomes,
pedaços de troncos que foram cortados
E eu penso:- por que cortariam  uma sombra ,
um  galho , uma  morada do pássaro?
Vingança engolida crua?
Desejo da terra nua?
Capricho d'um falso cristão
ou delírios insanos de alguém sem coração?

Vivo na casa que me parece  assombrada,
por onde voam memórias já depenadas.
Igual aquela que na infância  avistei,
que tantas vezes fez-me , de medo, correr!
Ouço ruídos vindos nem sei d'onde!
Passos cadenciados, que não são os  meus
Alguns  suspiros que não saem
da minha  melancolia!
Um fantasma atrás da porta.
Um cabo duzentos e vinte  que liga-me
ao  curto circuito de alguém que espero ,
            mas que não chega,
pois quem espero   ,
habita uma outra morada ,
 muito, muito além!

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