CHEGADA
A CHEGADA Vera Popoff
Andei por paisagens já tão estranhas
Longe do meu legítimo lugar
pequenino, entre montanhas,
a luz. o céu , o chão, uma tumultuada
ação dos passarinhos!
Dezenas de anos cavalgando a imaginação
em campos verdes.
Uma azaleia pintada num trecho
Outra sempre viva pintada n'outro
e um mato verde entre as duas!
Quatro passos adiante, um pingo d'ouro
Dois palmos contados para trás, a violeta
Cinco palmos à frente, um amor quase perfeito!
Se dou um grito, eu mesma o escuto!
Se sussurro, a folha da palmeira ouve!
Se canto, o sabiá nem liga quando desafino.
Se desafino, desculpo-me, mas não me contenho
e canto outra vez!
Distante do sonho erguido e escalado
Andando por mundo já esquecido
Vejo um enorme templo de cimento e concreto armado.
Estranho o som estridente,
O homem que passa depressa e não diz:
-Bom dia!
A mulher tão elegante , de salto quinze,
um vazio olhar pobre de alegria
parece saída d'um quadro mal pintado
ou de gravura mal desenhada!
Seus olhos abertos e contornados
só veem a ponta do nariz empinado!
Vou embora, já não posso andar a esmo,
longe dos meus encantos e das minhas dores!
Volto para o meu lugar
A árvore pelada do inverno , espera-me!
O chão que a chuva encharca, formando o barro,
vai acolher os meus pés mal cuidados
que me levam onde o contentamento mora!
O espinho da roseira podada vai me machucar
Vou sangrar e lembrar ! Meu lugar é no mato!
Onde o vento me roça a face
Onde o jasmim, vive por mim, suspirando!
Onde o vagalume pisca verde e alumiando
Onde os soluços que dou são consolados
pelos meus fantasmas... todos os dias
ressuscitados!
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