VERA POPOFF
De uma folha em branco d'um caderno velho
Eu retiro o alimento d'alma!
Um pensamento sombrio busca o passado
A casa feita de adobe, a sala clara,
a mesa de jantar , a janela aberta,
lugar da alegria certa!
Escuto as vozes, como se fossem anjos...
Nada mais é do que a folha do caderno velho,
de noite em noite, tomando a alma .
Colhendo os frutos d'uma mesma árvore
que saciam a fome da saudade,
acolhida na eternidade.
O vento bate na janela aberta...chamando!
Roça o semblante quente, mas enganoso
Avisa que há outros mundos, além passado
Há espaços onde se respira, há voos alargados,
lugares não tão íntimos para a alma entrar e
alimentar-se.
-Tenta o belo! diz o vento
Busca campos ainda semeados
Esqueça as colheitas feitas!
Lança tua alma num vazio desconhecido
Um destino novo, um espaço amplo
Um lugar onde não te acanhes
Um mundo... onde um brilho ganhes!
Obedeço o vento...deixo o passado.
Na travessia, um adeus sentido,
mas o aceno nem foi tão dolorido!
Desvencilho-me da onda que me carregava
Não vou mais frutificar as tantas dores
Nem agonizar nas sombras do passado
de velhos amores.
O movimento da alma flutua...
É outro tempo, outra luz, outra música!
Atingirei espaços sem tanta rigidez
A viagem já não assusta, desliza com fluidez
Lagos serenos, novos troncos, novas frondes,
Um jardim de goivos arroxeados, rosados,
jamais d'antes plantados !
Ah, são lindos e tão fugazes!
Novos aromas, sem lembranças de perfumes velhos.
O meu próprio coração desmente
que a vida sem o passado em mente
Não pode ser assim... tão contente!
MEU JARDIM DE GOIVOS |
Nenhum comentário:
Postar um comentário