terça-feira, 7 de julho de 2015

CADERNO VELHO

CADERNO  VELHO
                                                 VERA POPOFF

De uma folha em branco d'um caderno velho
Eu retiro o alimento d'alma!
Um pensamento sombrio busca o passado
A casa feita de adobe, a sala clara,
a mesa de jantar , a janela aberta,
     lugar da  alegria certa!

Escuto as vozes, como se fossem anjos...
Nada mais é do que a folha do caderno velho,
de noite em noite, tomando a alma .
Colhendo os frutos d'uma mesma árvore
     que saciam a fome da saudade,
         acolhida na eternidade.

O vento bate na janela aberta...chamando!
Roça o semblante quente, mas  enganoso
Avisa que há outros mundos, além passado
Há  espaços onde se respira, há voos alargados,
lugares não tão íntimos para a alma entrar e
                      alimentar-se.

-Tenta  o belo! diz o vento
Busca  campos ainda semeados
Esqueça as colheitas feitas!
Lança tua alma num vazio desconhecido
Um destino novo, um espaço amplo
Um lugar onde não te  acanhes
Um mundo... onde um brilho ganhes!

Obedeço  o vento...deixo o passado.
Na travessia, um adeus sentido,
mas o aceno nem foi tão dolorido!
Desvencilho-me da onda que me carregava
Não vou mais frutificar as tantas dores
Nem agonizar nas  sombras do passado
        de velhos amores.

O movimento da alma flutua...
É outro tempo, outra luz, outra música!
Atingirei espaços sem tanta rigidez
A viagem já não assusta, desliza com fluidez
Lagos serenos, novos troncos, novas frondes,
Um  jardim de goivos arroxeados, rosados,
          jamais d'antes plantados !
Ah,  são lindos  e tão fugazes!
Novos aromas, sem lembranças de perfumes velhos.
O meu próprio coração desmente
que a vida sem o passado em mente
Não pode ser assim... tão contente!

MEU JARDIM DE GOIVOS




                  

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