ASSIM ...ASSIM...
Vera Popoff
Assim...assim..
esqueci meu endereço.
Já não discuto preço
A fome que sinto é pouca
Para a sede de beber
tenho a água que satisfaz.
Com direito adquirido
dei as costas ao que é mordaz
Não uso roupa apertada
remendo a que está rasgada
O sapato é velho e folgado
Já nem fico mais avexado,
Digo não sem ficar corado
ou acanhado.
Não atendo mais telefone,
rasguei agenda com nomes,
decidi pela solidão
sem ter que pedir perdão!
Acordo de madrugada,
faço o sinal da cruz
Sem repetir oração
Cumprimento o sol que nasce
Recolho um ramo verde
É a minha superstição
À mesa , café com pão
O canto do sabiá
é o som que penetra no coração!
Se me chamam
eu finjo que não escuto,
já tenho muita companhia:
- a rosa desabrochada
-a dália amarelada,
-a fruta adocicada,
-a quietude preservada
-a paz, enfim, conquistada.
Desisti da competição
Contento-me com o que tenho à mão.
Já não frequento festa , tampouco,
encontro e reunião.
Assim...assim...decidi a vida.
Domino meu pouco espaço
São dois mil e oitocentos metros
Conheço cada palmo
do chão pisado e repisado,
plantado e replantado.
Conto as frutas do pé
Sei quantas estão bicadas,
maduras e esverdeadas.
As folhas no chão caídas
se ajuntam e são o meu tapete
A rede é a minha cama
Meu chão ladrilhado de grama.
Já não faço aniversário
e nem dou os parabéns!
Não digo que o feio é lindo
para agradar o camarada.
Não digo amém, por favor
ou com licença, seu doutor!
É assim...assim...
Descobri um pouco tarde,
mas ainda não morri.
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