sábado, 6 de agosto de 2016

CENAS DA INFÃNCIA I

CENAS DA INFÃNCIA I
                                                   Vera Popoff

Minha mãe tece num canto
No canto mais claro da sala morna,
         cheia de sombras .
Suas mãos compassadas tecem doçura.

Meu irmão que é pequenino,
mas de tamanho maior que o meu,
olha fixo num outro canto
da sala morna , cheia de sombras,
da sala grande, da sala feia!

Encolhida , percebo o quadro de nostalgia,
        sinto arrepios!

Sinto medo ao ver ao lado
o meu pai sentado,  jornal nas mãos...
Receio cruzar o seu  olhar grande e severo
     olhar quase fantasma
     olhar tão rijo
     olhar de ternura tão escondida!
O seu olhar é a desarmonia daquele lugar.

Minha mãe é tão bonita , é tão sensível!
O meu irmão segura firme a minha mão,
percebe o medo no meu coração.
Meu pai é de pouca fala, queixa cansaço,
exige silêncio ...a quietude do ambiente
                  não lhe faz contente.

Sinto tanto constrangimento !
Deparo-me com aquele olhar
e a  minh'alma consegue gelar
Vou me dobrar, vou me esconder, vou me  encolher
 -Ai, sou tão pequena e já quero morrer!

Que noite de melancolia!
Minha mãe é tristeza vaga...
Meu irmão tem o rosto pálido e o olhar
perdido num sonhos bom!
Mas os meus sonhos são pesadelos!
Vejo vultos que me assustam
Sinto o vento passando a porta
assaltando o meu coração!

Minha mãe à luz da lamparina
é imagem imaculada!
Meu irmão é um anjo bom,
tem gestos trêmulos , é emoção!
Sua boca bem torneada  mostra um
         choro engasgado
É tão menino, mas tão protetor!

O meu pai tem amor enrustido
Sua mão não me faz carinho!
E o cheiro do querosene
arde a narina e estraga acena!


Eu quero dormir
Preciso urgente d'um amanhecer!
Mas não sinto sono!
O quarto está escuro, mas não reclamo.
Não digo nada ...falta coragem,
vejo fantasmas e...não sai palavra.





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