segunda-feira, 8 de agosto de 2016

TREVAS

TREVAS
                            Vera Popoff

( poesia dedicada ao Chico, um morador de rua da Baixada do Glicério em São Paulo)

Por sobre mim caíram pragas
E o meu peito arde em chagas.
Fui condenado a dores lentas, persistentes
       e contínuas.
Fui apontado como um verme que se arrasta
Vou seguindo contorcido e mudo,
com semblante baixo e  vil.

Por sobre mim caíram iras
Eu sou um desgraçado!
Já não posso suportar o peso fúnebre
da devastação que são meus dias.

Estou ameaçado de acabar
no meio dos destroços.
A opressão vai rebentar meu coração
Quero gemer, vociferar, uivar,
fazer-me notar, mas silencio e finjo dormir.

Sinto o frio assolador,
mas não é o frio da morte.
Clamo por ela:
-"Vem, vem me buscar,
ó morte ingrata e tétrica!"

Não há na terra um sofrimento mais brutal!
Em vida eu vou morrendo e lentamente,
Nas dores eu me arrasto...
como um ébrio ignóbil num canto da calçada.

Sou maldito!
Sem direito à redenção.
No momento em que nasci
apagou-se o sol, não despontaram estrelas
Vinte e uma noites da carência do luar
assistiram meus primeiros choros.
Dos céus , eu recebi a condenação!

Sou miserável!
O desvario é inevitável
Enterrei com morbidez
qualquer paixão.
Dilacerado, esfarrapado,
sou molambo e vagabundo.
Sou homem desolado e impuro.
Não tenho sonhos, sou insano,
           sou profano.

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