Cabelos Brancos
( Vera Popoff)
Nova manhã, nova aurora! Olho no espelho que não disfarça, não afaga, não perdoa.
Mais cabelos brancos... Mais dias vividos à sombra ou ao sol.
Mais verões, mais invernos. Meus cabelos brancos são o meu tempo, a existência cravada, a razão e a loucura.
São sementes ao chão.
Meus cabelos brancos são os amores perdidos e os encontrados.
São a minha mãe , o meu pai, ...meu irmão ao piano tocando, tocando, tocando...
Beethoven, Mozart , Chopin.
Meus cabelos brancos são as filhas paridas, crescidas, amigas.
São as feridas , as cicatrizes, são as tempestades, os ventos, as bonanças e as calmarias.
São as perdas e os ganhos.
São as certezas, as dúvidas, as escolhas bem feitas e as nem sempre, perfeitas.
Meus cabelos brancos são lembranças, são saudades, são os fins e os recomeços .
São as chegadas e as partidas, são o trabalho e o repouso.
Meus cabelos brancos são as ilusões, as desilusões, são os sonhos sonhados,
os pesadelos, as noites dormidas, as insônias.
São o riso na boca, a lágrima e a dor.
Meus cabelos brancos são os dias raiando, o sol aquecendo, as noites caindo.
São os amigos compartilhados e inimigos desconhecidos.
Meus cabelos brancos são os anjos, os demônios, são os céus e os infernos vividos.
São as virtudes e os pecados, são as mágoas e os parcos perdões
São o esquecimento, as gratidões e as ingratidões.
São o aconchego da alma, a solidão, a paciência treinada, os aprendizados, as lições.
São tantas esperas e os desesperos.
Volto a olhar o espelho.
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28 de maio
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