segunda-feira, 18 de maio de 2015

NEGRO, A PÁTRIA NÃO VAI ESQUECER!

Hoje é o Dia Nacional de Zumbi e da consciência negra! A luta contra a discriminação continua!
Sua benção, avô Severino! Nosso avô negro que nos deixou histórias de superação e crescimento!
Sua bênção , Sebastiana Marques , que gostava de ser chamada pelo apelido de "Negrinha"! Contadora de histórias, marcou minha infância e do meu irmão de um jeito lindo!
Sua bênção , Tiriba! Que saudade da sua sabedoria!

Minha homenagem ao Dia da Consciência Negra

NEGRO , A PÁTRIA NÃO VAI ESQUECER!

                                                                 (Vera Popoff)

Negro, caíste vencido no chão sangrento!
Bebeste a areia, pois te negaram uma caneca d'água!
Tombaste com os pés acorrentados e a alma decepada!
O feitor a perguntar:
-" Tu tens alma, negro?"

Choraste tantos sóis e tantas luas!
Choraste o banzo da Terra , do canto e da dança,
do seio da mãe e dos teus Orixás!
-"Tu tens alma, negro?" O feitor a perguntar.

O vil coronel atiçava o reio, atiçava o ódio,
atiçava a fera feitor!
Atiçava a ira dos Deuses da África!
E pisava outros negros ressuscitados, magoados,
suados, atirados ao terreiro feito do horror!
-"Tu tens alma, negro?" O feitor a perguntar.

Onde escondia-se o Brasil de então?
Atrás das cortinas de cetim da casa grande?
Atrás dos coronéis empolados
vestidos de linhos e casemiras?
Onde escondia-se o Brasil de então?
Nos casarões dos homens de pele de seda e,
de mãos sangrentas?
Atrás da covardia? Atrás da sórdida fortuna
às custas da agonia do " homem de cor ?"
Atrás dos golpes fatais e do teu pavor, negro?

De dentro da senzala suja, da senzala torpe,
da senzala fétida, da senzala ignóbil,
teus irmãos também acorrentados,
com olhos de sangue e mãos feridas,
disfarçavam a dor com o canto do banzo,
do teu sonho tão longe de amor!

O banzo da terra, do canto, da dança,
do seio da mãe e dos teus Orixás
fervia nas veias, queimava, dominava a razão,
destruia o perdão!
-"Tu tens alma, negro?" O feitor a perguntar!

Negro, eu sinto vergonha do branco
de botas polidas, dos dedos macios ,
das mãos enluvadas que te machucaram!
Eu sinto vergonha do branco das mãos bem tratadas
que te mataram e  depois se esquivaram,
na casa erguida sobre os cadáveres dos teus irmãos!
-"Tu tens alma, negro?" O feitor a perguntar!"

Como esquecer a chibata, negro?
Como esquecer a saliva nojenta que te amaldiçoou?
Como esquecer a angústia, o terror, o choro engolido,
o sangue escorrido, as marcas da dor?
Como esquecer os filhos vendidos, sumidos,
a preço de anéis?
-"Tu tens alma, negro!" O feitor a perguntar!

Negro, a Pátria não pode esquecer!
Negro, a Pátria não deve esquecer!
Negro, a Pátria não quer esquecer!
Negro, a Pátria não vai esquecer!


 
Meu avô Severino Borges Rodrigues
 
 
 Sebastiana Marques, a Negrinha, nossa amiga contadora de histórias
 
Tiriba com meu irmão Fernando Popoff , grande amigo da minha família 
 
 

 

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