sexta-feira, 22 de maio de 2015

NINHO VAZIO

NINHO VAZIO
                              (Vera Popoff)
 

     O meu ninho está vazio...vazio...
Na sala, ou no quarto, ou no jardim, ou na varanda , o silêncio é dominante.
Às vezes, o ruído das folhas do coqueiro ao vento,
 ou um bem-te -vi amável chama na janela
  ou o velho cão late cansado.
  O silêncio profundo é interrompido por instantes.
Minhas filhotinhas cresceram e bateram asas.
Na  despedida, gotas de lágrima brotaram dos meus olhos de astigmatismo.
Ficaram quimeras.
Na noite escura e cálida, ouço vozes que chamam:
- Mãe, eu sinto frio!
Abro a porta . Quarto vazio. Camas irritantemente arrumadas,
 travesseiros no lugar, coberta dobrada, nada a recolher do chão.
Volto a deitar no limite entre a tristeza e o alívio do dever cumprido.
Pela manhã, o sol brilha na janela e  penso na agitação de outrora.
-A escola, a merenda, o café com leite e a geléia de amora.
Tão impaciente fui, às vezes. Olhando o relógio ...
... o cuidado com os minutos perdidos.
-Por que tive tanta pressa? Os momentos eram ricos! Era tudo tão perfeito!
Frente ao fogão, cozinho arroz, feijão,
 o frango ensopado e o jiló verdinho.
Ambas gostavam.
Fico indecisa. Coloco a mesa ou espero mais um pouco?
Lembro da algazarra e das brigas para que comessem fibras.
Vai- se o sangue do meu rosto. Fico pálida de saudade!
Disfarço o descontentamento. Passam os dias, as semanas...
Aliso fotografias de risos e de encantos.
Habituada às suas companhias, acordo agora da saudade e vivo o dia.
Recuso-me a constatar: - "elas estavam aqui, mas já não estão"..
Se precisarem, chamem. Eu vou.
Se preferirem regressar, aqui está o meu colo, o ombro , a mão da mãe.
Se precisarem de agasalho, posso ceder meu útero, outra vez...

 


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