NINHO VAZIO
(Vera Popoff)
O meu ninho está vazio...vazio... Na sala, ou no quarto, ou no jardim, ou na varanda , o silêncio é dominante. Às vezes, o ruído das folhas do coqueiro ao vento,
ou um bem-te -vi amável chama na janela
ou o velho cão late cansado.
O silêncio profundo é interrompido por instantes.
Minhas filhotinhas cresceram e bateram asas. Na despedida, gotas de lágrima brotaram dos meus olhos de astigmatismo. Ficaram quimeras. Na noite escura e cálida, ouço vozes que chamam: - Mãe, eu sinto frio! Abro a porta . Quarto vazio. Camas irritantemente arrumadas,
travesseiros no lugar, coberta dobrada, nada a recolher do chão.
Volto a deitar no limite entre a tristeza e o alívio do dever cumprido. Pela manhã, o sol brilha na janela e penso na agitação de outrora. -A escola, a merenda, o café com leite e a geléia de amora. Tão impaciente fui, às vezes. Olhando o relógio ...
... o cuidado com os minutos perdidos.
-Por que tive tanta pressa? Os momentos eram ricos! Era tudo tão perfeito! Frente ao fogão, cozinho arroz, feijão,
o frango ensopado e o jiló verdinho.
Ambas gostavam. Fico indecisa. Coloco a mesa ou espero mais um pouco? Lembro da algazarra e das brigas para que comessem fibras. Vai- se o sangue do meu rosto. Fico pálida de saudade! Disfarço o descontentamento. Passam os dias, as semanas... Aliso fotografias de risos e de encantos. Habituada às suas companhias, acordo agora da saudade e vivo o dia. Recuso-me a constatar: - "elas estavam aqui, mas já não estão".. Se precisarem, chamem. Eu vou. Se preferirem regressar, aqui está o meu colo, o ombro , a mão da mãe. Se precisarem de agasalho, posso ceder meu útero, outra vez... |
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